sábado, 26 de fevereiro de 2011

1.

Uma cabeça de Sócrates
Vem perturbar o meu sono.
Sou um homem curvo,
Em uma vida curva,
sem propósitos.
O corifeu me olha;
Estou estarrecido,
e estou entre os coristas;
ele espera
que a minha voz se projete
como uma onda
Para fora do meu centro de gravidade.
Mas tenho medo,
E me calo.
E me calo.

Eu tento, e faz meses
Escrever
O teu nome, e o nome das flores.
Mas no mundo não há tempo
Para o que não seja plástico.
Mastigo lembranças
e sorrisos falsos.
Minha caneta tem uma
escura tinta de crueldade.
E eu sou finalmente
Mau e baixo,
Como uma criança.


2.

Olá, espelho.
Olá.
Amigo.
Espero que não se importe
Em ter-me outra vez.
Sou teu.
Desfeito,
sou como a água
e desmancho montanhas
de braços azuis
e brinquedos espalhados por um longo quarto de paredes brancas e encardidas.

Eu tenho músculos tesos;
Eu sou o suicídio da luz.
Como um ator,
Ou um cavalo à galope,
eu me lanço no fogo
e na escuridão.
Eu sou a combustão
Da música.
Silêncio, para fora
E para dentro.
Dedos e vidro,
Espelho, olá.
Eu cavalgo
A tua superfície.
A insanidade é apenas
Uma terra prometida.
Condenado á luz,
eu procuro
uma voz que seja minha,
e te abraço,
Com todo o meu corpo
jovem e sem forças.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

OFICINA DO SURTO.

Quero enlouquecer, uma vez que sou mau e podre. Quero sentir raiva, muita raiva. Quero ser decepado pelo ódio; quero que os cavalos selvagens cavalguem sobre as minhas costelas. Pisoteado, serei medonho e tetraplégico. Meu cérebro escapará por uma fenda minguante. Uma chuva de seringas caíra sobre o meu crânio, e os gafanhotos devorarão os meu intestinos. O doutor enfaixará meu rosto inteiro e sentirá medo. As enfermeiras sussurarão "feio e mau". Mesmo a criança perceberá que não sou um paciente comum. Meus ossos serão afiados, e meus dentes serão como os da hiena. Serei carniceiro e amarei a barbárie. Deixarei o sol corroer a minha pele. Serei negro e terrível, como um nômade africano. Matarei a pedradas. Terei por prática religiosa o canibalismo, e meus olhos serão estreitos como o meu intelecto. Mastigarei os ossos dos meus amigos; os olhos dos meus inimigos. Cortarei os tampos das cabeças dos meus pequenos irmãos e os deixarei ao sol; serão as cegas esculturas da violência. Jogarei Deus na areia movediça, e o escutarei pedir socorro. Ele gritará, atrás de sua barba e de sua sabedoria; o deserto comerá o seu fígado divino; o calor torcerá suas veias e o costurará à terra. Gritarei como um louco, e arrebentarei a minha própria garganta com as unhas. Sangre, minha alegre vida, sangre até a última gota! Serei violento como o fogo nos cabelos da humanidade.