1.
Uma cabeça de Sócrates
Vem perturbar o meu sono.
Sou um homem curvo,
Em uma vida curva,
sem propósitos.
O corifeu me olha;
Estou estarrecido,
e estou entre os coristas;
ele espera
que a minha voz se projete
como uma onda
Para fora do meu centro de gravidade.
Mas tenho medo,
E me calo.
E me calo.
Eu tento, e faz meses
Escrever
O teu nome, e o nome das flores.
Mas no mundo não há tempo
Para o que não seja plástico.
Mastigo lembranças
e sorrisos falsos.
Minha caneta tem uma
escura tinta de crueldade.
E eu sou finalmente
Mau e baixo,
Como uma criança.
2.
Olá, espelho.
Olá.
Amigo.
Espero que não se importe
Em ter-me outra vez.
Sou teu.
Desfeito,
sou como a água
e desmancho montanhas
de braços azuis
e brinquedos espalhados por um longo quarto de paredes brancas e encardidas.
Eu tenho músculos tesos;
Eu sou o suicídio da luz.
Como um ator,
Ou um cavalo à galope,
eu me lanço no fogo
e na escuridão.
Eu sou a combustão
Da música.
Silêncio, para fora
E para dentro.
Dedos e vidro,
Espelho, olá.
Eu cavalgo
A tua superfície.
A insanidade é apenas
Uma terra prometida.
Condenado á luz,
eu procuro
uma voz que seja minha,
e te abraço,
Com todo o meu corpo
jovem e sem forças.