sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Encontrei isso aqui...
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Em sua boca havia um pouco do mel espesso de sua última palavra,
Com o seu esôfago cosia auroras, bordando
um lenço de juncos inertes – o grito mergulhava como um peixe
em lagos sem nome: homem e fera lambiam da mesma fonte.
E a lama fresca de seus pés – Olhos
sepultos em espelhos escuros – deixava um odor turvo e pálido de
passado esquecido. A tudo ele sentia
Com a mais viva intensidade. Do seu
peito, pulmões gemiam em cavernas ósseas, gemiam canções de guerra. Alasão
Sem lesões, cascos firmes esburacando nuvens cinzas
de poeira, a crina levava estrangulado, em suas tranças negras, uma antiga vaidade;
e o tempo já não segurava as rédeas de seu pescoço;
e ele parecia eterno, sentia um gosto amargo e absurdo de permanência.
Selvagem, ignorou que o mundo era geométrico: cubos, planos, primas
– tudo o mais era carne, músculos, vegetação
túmida; nesga de homem corria na lágrima do animal.
E o orvalho eram os seus olhos, vivos, vivíssimos em tudo,
segurando os cabelos vermelhos do astro pelos dentes
E o puxando violentamente de volta para si. Enfim, não era homem
Crepitando o carvão dos dias.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
beijo
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Eu
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Sempre
Te esperando,
Na ponte
Onde ninguém
Passa,
Onde apenas nossas
sombras
descansam
o silêncio de nossas
almas
em nossas mãos
dadas
e calmas.
As águas
Desmancham agosto,
e há um pouco
de presente
de aniversario
nisso
tudo;
Meu beijo
No teu coração
É uma carícia
A ser ouvida
Com o espírito.
Nossos dedos
Promessa
Que não quebra
nem à margem dos rios
nem à margem
dos nossos
mares,
Nosso Sargaços,
oceano
onde a morte
coroa a vida
dos nossos destinos,
não entrelaçados
por algum
artifício: mas unidos,
siameses
como dois irmãos
separados apenas
pela morte,
ou talvez
não.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Minhas mãos (olho para baixo); entre elas, outra. Outra mão. Outra mãozinha estúpida, nojenta. O quarto: negro, profundo. Mão branca entre minhas mãos brancas. Como um brinquedo moldado em plástico, mas crivado de uma humanidade úmida, sebosa. Tinha dedos frágeis, que se contraíam a cada apertão que eu lhes dava. Talvez eu quisesse estrangular aquelas cabecinhas com unhas moles, aqueles cerebrozinhos brancos, irritantemente brancos. Eu sempre quis estrangular uma criança muda. E não era que nada se dizia? Nada se dizia. O silêncio era aquele pretume disforme, vaporoso. Havia água no ar, e janelas que deixavam aquela matiz de carvão digesto escoar para dentro. Repentinamente, uma mão estava entre as minhas. Plástica e estúpida. Mão branca entre minhas mãos negras. Cortada, como que por grafites enviesados, manchando aquela pureza elefântica, aquela lentidão pálida e doentia que se esgueirava entre minhas palmas. E além daquela mão de deus algum, de santo algum, nada que divisasse: um cotovelo, talvez. – que cotovelo? De quem? Não importa. Um cotovelo cindido por lâmina de alguma sombra, por uma cortina de fantasmas todos calados, todos em postura grave e vertical. – cotovelo, riscado cotovelo, e antebraço, sem veias: a vida ali era discreta e quieta. A perturbação era apenas a minha, escorregadia. Uma perturbação sem porquê. Um aperto misterioso em meus pulmões; minha respiraçãozinha, minha respiraçãozinha débil, esgoelada, soluçante... Por sorte de alguma substância eu sentia meus ossos comprimindo-se; a respiraçãozinha, os pulmões jovens, rosados, como balões vazios, subindo ou descendo; o teto, o teto descendo. Eu sentia as dimensões surdas daquele lugar, próximas, muito próximas; as linhas, a geometria daquele sofrimento enigmático, beijando meu rosto de algodão manchado. O cálculo era preciso. O braço era de uma anatomia perfeita. Eu não era nada, então. Era aquele estímulo, aquelas mãos, aquele pensamento engaiolado, em disparate, debatendo-se contra as barras (e a ilusão, e eu sei que era ilusão, de que o teto baixava e subia); eu era o teu pássaro. E o teu pássaro era alguma coisa ali, estática, longe do futuro e do... Qual! Isso não importa, criaturinha. Eu sequer te vejo. Tu, sem olhos. Tu, sem cabeça ou peito. Tórax, onde? O vazio perscrutável de todas as minhas idéias loucas de que tu era digno, digno. O abismo, a cama. Agora vejo as barras da tua prisão, tua gaiola de ossos de madeira, onde debatiam-se tuas preocupações, tua angústia nervosa e essencial. A cama de mogno, o travesseiro. Nada descansa. Eu parado. De pé. Em velório? Nada morre. Tudo subsiste aqui dentro, como uma água de poço, escura e lodosa; um abcesso, um coágulo misterioso. Aos poucos os teus pés, os teus malditos pés solitário. Cortes de alguma sabedoria cirúrgica, pois eram cirúrgicos os teus pés, duas botas de algum ser humano desprovido de pés. A pele inerte, a pele completamente inerte e parada, como o ar. Um relógio de pulso, estirado no meio; teu cérebro tinha suas engrenagens, seus segundos perdidos, suas horas esperadas. – Agora lembro que vivias correndo de qualquer coisa, e este relógio, de engrenagens soltas, polvilhando o lençol liso com seus fulgores prateados, seus espelhinhos de horror e loucura rodopiantes. E eu, segurando a mão, a mão escura e invisível. Os dedos são retângulos. O braço é retângulo. Tudo à frente se disfarça de nada. Meu braço, esticado como uma cobra ou uma vara de madeira. Eu olho. Toco o alarme. Nada. Nem alarme, nem botão. Meu dedo afunda em qualquer coisa. Meu braço dói. Por que esticado entre aquelas mãos horríveis por tanto tempo? Sentia-a me apertando, me afogando em uma carícia venenosa. Eu já estive aqui antes. E eu espero, espero que o tempo passe; meus pés esticados; minhas mãos esticadas. Estou em alguma dimensão estranha, sem ser sono ou realidade. Hostilidade, sim. Hostilidade a tudo, mas ainda... ainda que pronto para soltar aquele organismo nervoso, ainda assim... mas ainda, ainda que pronto para soltar aquele... mas ainda... ainda que sim, ainda que pronto para aquele organismo me soltar de novo, eu me agarro como a um objeto em pleno mar, e pleno mar é mar em meus ossos, em meu mundo ósseo, em minha dimensão paraplégica, em pleno mar e mar e braços e mar, fúria densa, corpo de água escura revolta, e aquela mão, aquela mão surgindo das vagas e apertando as minhas com um amor soberano, estrelar. Ela deseja me puxar, para além de seu espelho salgado; mas eu não quero, largar ou mergulhar naquele cristal ardente; eu quero ficar aqui, com as minhas coisas, as minhas coisinhas preciosas, os meus ódios e as minhas paixões torpes. E o pássaro, que eu vi desferir o vôo no infinito do mar, desapareceu, roubando minha sombra, minha linda sombra, para sempre; em seu bico, ó diabos, em seu bico ele levou um ramo de mim e o perdeu entre as montanhas golfejantes de escuridão profunda e aquática. E o pássaro, que eu vi desferir o vôo infinito dentro de mim, ele perdeu minha sombra e levou minha paixão torpe e vazia para a espuma e além dessa...
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Que lindo é o caminho de volta! De volta para casa.
Já nem recordo como a deixei - os jardins, os jardins!
A natureza deve lá estar morando,
Deve lá ter deixado os pássaros coserem ninhos
De luz e matéria.
Eu, que por muito tempo tenho estado aqui em cima,
Estou cansado de estar sozinho.
Quero amar novamente as sombras na varanda,
E as árvores de raízes saudáveis e fortes
Que deixei há tempos.
Eu, que por muito tempo amei as montanhas,
Mal percebi que tomei-lhes à semelhança!
Que feios eram os dias frescos
Sentado junto às rochas! A solidão
Já não me comove mais.
Eu mesmo me tornei pedra! Sentado, na mesma posição,
amando as folhas que caem e são levadas pelos ventos.
Eu não sou folha e aqui permaneço!
Que chato é permanecer aqui, olhando lá para baixo,
os homens e a dança dos homens!
E, quem sabe...? Não, não! Ou sim? Sou eu ali, a dançar?
Não. Eu não estou lá para baixo,
Mas lá adiante, onde os vales balançam os ventos esverdeados,
E a minha morada abriga o vôo
das vespas e dos passarinhos.
E eu vou lá para baixo! E é já! Que coisa... Abandonar essa
Montanha fria! Aqui tenho estado seguro, mas minha alma
Deseja vôos rasantes com a vida.
Minha alma deseja as vagas silentes e o reflexo
Divino nas fontes.
É preciso deixá-la, montanha, para que outro a suba.
Mas que outro me importa! Eu devo descer-te
Com a aurora nos cabelos, escorregando alegre
pela areia vacilante das rochas. A ti eu volto, minha terrinha
Querida.
Que quis eu aqui em cima? Que quis eu aqui embaixo? O céu
Não me pertence, nem a terra, tampouco o mar.
Quis eu pertencer ao céu, à terra ou ao mar?
Queira eu apenas pertencer e retornar
aos jardins que cultivei há tempos!
O mundo é grande demais pra mim! E o universo muito mais!
Melhor talvez seja eu largar essas baboseiras,
E dar uma boa varrida na minha varanda.
Eu quero voltar para o meu amor
Onde a Natureza virou hóspede.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Hoje, o dia de nós
Senhores entre os senhores.
Hoje, o dia de nosso
sacrifício:
Lembrar.
Nossa pequenez é
a nossa arma:
Somos infinitos
Enquanto
Indiferentes.
Somos fortes
enquanto sangrarmos.
Hoje caminhamos
à praia
e a percebemos
coberta de vida.
Nossa violência
são os nossos passos.
Nosso crime
é o amanhã.
Despertamos entre
as areias
de nós mesmos.
Duas rochas
na erosão de nosso caminho.
Rolamos e amamos
o precipício
de nossas almas.
Por quê? Por que
com tanta violência
disparamos contra o vazio?
Hoje, o dia de nós,
Senhores entre os senhores.
Minha poesia não está para a vida
e nem para morte.
Está para a tua mão.
A tua mão inerte sobre a minha.
Minha poesia está para o silêncio,
o amargo silêncio das tuas ilusões
perdidas.
O teu desespero não interessa para a minha poesia.
Como pode ver, eu sou um homem brutal,
mas ainda um homem.
E o meu amor é a semente
Lançada no caos e no suspense.
Eu pretendo o mar, não por sua beleza
Mas pela sua volubilidade.
Eu quero as ondas, que sempre se renovam
E sempre me perdem.