sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Encontrei isso aqui...

A nova onda é o boogie. O blues ficou para trás. Eu quero comer duzentas milhas de asfalto. E quero que você o faça comigo. A liberdade é o sonho do qual tento acordar, mas é impossível: eu sou o furacão, e eu vou soprando as nuvens para longe daqui. O sol brilha na minha constelação, e eu sou o raio vagabundo, vencendo a órbita dos planetas, iluminando a escuridão do cosmos.

Os meus heróis foram caindo. Alguns de overdose, outros em escândalos sexuais. Eu sempre quis ser Sylvester Stallone. O mundo não é dos fortes, mas se eu fosse Arnold Schwartznegger, talvez eu fosse mais feliz. Eu fui criado num mundo pós-guerra. Sempre quis ser violento. Ás vezes acho que sou uma mocinha. Mas sempre quis ser muito violento.

Os carros na tevê são sport. A música da tevê é a dos homens bonitos, das mulheres bonitas. Quando eu pego a estrada da madrugada, quando me deixo, assim, a mastigar as estrelas, aposentando os mapas para pasárgada, me pergunto se quero realmente ser bonito. Meu coração cheira a diesel e o meu amor tem essa textura da relva fresca, batida pelos nossos corpos. Eu não aguento as sombras das árvores por muito mais tempo e acho que quero mesmo é cozinhar no inferno. - Quem vai saber o que quero! Se eu pudesse morrer, que fosse na altura de um penhasco; e o mundo, por um instante, ser meu e de mais ninguém.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Em sua boca havia um pouco do mel espesso de sua última palavra,

Com o seu esôfago cosia auroras, bordando

um lenço de juncos inertes – o grito mergulhava como um peixe

em lagos sem nome: homem e fera lambiam da mesma fonte.

E a lama fresca de seus pés – Olhos

sepultos em espelhos escuros – deixava um odor turvo e pálido de

passado esquecido. A tudo ele sentia

Com a mais viva intensidade. Do seu

peito, pulmões gemiam em cavernas ósseas, gemiam canções de guerra. Alasão

Sem lesões, cascos firmes esburacando nuvens cinzas

de poeira, a crina levava estrangulado, em suas tranças negras, uma antiga vaidade;

e o tempo já não segurava as rédeas de seu pescoço;

e ele parecia eterno, sentia um gosto amargo e absurdo de permanência.

Selvagem, ignorou que o mundo era geométrico: cubos, planos, primas

– tudo o mais era carne, músculos, vegetação

túmida; nesga de homem corria na lágrima do animal.

E o orvalho eram os seus olhos, vivos, vivíssimos em tudo,

segurando os cabelos vermelhos do astro pelos dentes

E o puxando violentamente de volta para si. Enfim, não era homem

Crepitando o carvão dos dias.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

beijo

Que caia uma camada de silêncio sobre nossas bocas
Enquanto este momento oportuno
Tornar a nós dois o que, na verdade, somos:
Um.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Eu

Atrás da porta do meu quarto,
Que nunca está completamente fechada por uma questão de hábito,
Há alguém
Me esperando.
É sempre pela noite que algo me espera (nunca pelo dia).

Deito-me e fico a encarar
Olhos invisíveis
Sonhando
de pé.
É sempre alguma coisa, e está sempre de pé, respirando
Calmamente. Não há qualquer vestígio
De ansiedade.

O que é que me espera, eu não sei. Sei que está lá,
Em silêncio,
Estudando-me como um animal de alguma experiência obscura.
Se me quer bem, se me quer mal...
Eu não sei de muita coisa.

O que me angustia,
é saber que há algo a ser esperado. Se de mim,
Ou se eu mesmo,
Se meu despertar ou adormecer...
Que sei eu dessas coisas?
Sei que estive esperando pela espera de alguém
Ou de alguma coisa.

Se de mim ou de outro...
E se eu for outro e estiver esperando por mim?
E se...
Nunca fecho completamente a porta do meu quarto,
E deixo que o vento de uma dúvida me seqüestre.
Se me levar para onde, para longe...
Que me importa?

Desde que eu vá para algum lugar.

. . .

Súbito
Súbito acordo.
Súbito.
Uma centelha explode em minha testa.
Têmpora,

Cabelos escuros,
Tudo
Elétrico,
Tudo obra de alguma luz
Que desfaz sombras
Como lã.

E se estive segurando um novelo,
Por um labirinto de
mentiras,
Sim, mentiras,...
Ainda estou sendo guiado?
Ainda...?
Ainda. Ainda estou aqui.
Mas que...?

Que lugar é este?
E que cama, que lençóis, que cheiro,
Que brisa é essa que invade
o espaço?
Não é minha.
Estas roupas...

Com que semelhante surpresa
Eu poderia experimentar
A textura do desconhecimento?
O espelho nunca
Nunca me refletiu antes?
Os traços deste rosto não existem.
É de um outro rosto
E com horror reconheço que não estou.

Onde estive?
Minha alma, se é que existe alma,
esteve sempre aqui?
Não recordo de ter deitado minha cabeça no travesseiro.
Parece que acordei e nasci.
Parece que morri.

. . .

Vou-me embora para longe,
Vou-me embora para mim.
Se chegarei, não sei.
Não sei de nada.
Só sei
Que não estou aqui.

Se estivesse, não sentiria
Essa angústia nervosa de sair à rua com pés de outros homens
Embaixo dos meus.
Sei que são homens decentes,
E que todos eles têm pés muito particulares.

Os meus não deixam rastros.
Meu vestígio é a indiferença.
Teu coração já foi bombardeado por tantas palavras confusas
E agressivas... Nem reconheço em tê-las dito.
Talvez não tenha, mas isso são outros quinhentos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sobe, pequenina,

A aranha,

Desfiando o silêncio pleno e satisfatório

de uma vida.

De uma vida inteira.


Negra,

Como uma conta

de rosário,

A oração

já é uma cadeia de palavras vazias, vazias,


e a aranha,

Em meu coração

Prepara sua armadilha.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Eu vou estar para
Sempre
Te esperando,
Na ponte
Onde ninguém
Passa,
Onde apenas nossas
sombras
descansam
o silêncio de nossas
almas
em nossas mãos
dadas
e calmas.

As águas
Desmancham agosto,
e há um pouco
de presente
de aniversario
nisso
tudo;
Meu beijo
No teu coração
É uma carícia
A ser ouvida
Com o espírito.
Nossos dedos
Promessa
Que não quebra

nem à margem dos rios
nem à margem
dos nossos
mares,
Nosso Sargaços,
oceano
onde a morte
coroa a vida
dos nossos destinos,
não entrelaçados
por algum
artifício: mas unidos,
siameses
como dois irmãos
separados apenas
pela morte,
ou talvez
não.
Queres aprender a viver? Comece a dizer sim.
Não sejamos nós também filhos de um
longo século de negações.
Chega de lutar contra a vida,
Como se fôssemos um corpo hostil em um ambiente hostil.
Não nos privemos da experiência. Digamos sim.
Não apenas às oportunidades,
Mas ao que não podemos mudar.
Saibamos não nos curvármos à impotência
Do que já foi.
O Passado, o cemitério onde não enterramos nossos mortos
o bastante fundo;
De sua vegetação pútrida e de sua terra úmida
Ainda exalam os miasmas dos nossos corações amargos.
Esqueçamos!
Esqueçamos os mortos!
Enterrem fundo os seus mortos
Ou aprendam a bailar com eles.
Deixem-nos para trás.
Perdoem-nos. Perdoem o que morreu. Perdoem-se,
Perdoem-se por ter deixado morrer.
Nada permanece,
Então nada poderiam fazer
Que a natureza já não tinha ela mesma planejado de antemão.
Realidade, efemeridade...
Sejamos transitórios como as águas dos rios,
Sejamos violentos como as águas dos rios,
E desçamos pela vida, com violência e amor.
Esqueça o passado,
Você não precisa dele.
Esqueça as ofensas, esqueça tudo. Esqueça as zombarias,
As humilhações. Você será grande,
Porque esse é o instante da tua grandeza,
Tu que sabes esquecer, que sabes rir do que foi
E do que não tornará. Tudo será uma bela história, uma narrativa
Para ser gozada à chama de uma fogueira. Toda a tua
Vida, versos inimitáveis de um poema,
Gole único de uma taça de bebida fresca.
Esqueça o que passou
E não tornes para traz.
Não te angustie com o porvir,
Não tropece sobre os próprios pés. Ama o instante,
Porque é nele que tu te tornas real.
A morte é a sombra
deste lençol
Com que cubro todos os móveis
e os móveis em que guardei
tudo quanto retirei
e pus em sacolas escuras
e lancei para qualquer outro lugar,
num abandono sobre rodas,
para qualquer túmulo
de céu aberto,

Sei lá. Ainda me vejo correndo
Por estes corredores; cigarras mortas
marcam meus passos de pré-adolescente;
Eu ainda me lembro das cores,
do papel de parede, do lamento
da vizinha e do cachorro da vizinha,
e da campainha,
e de seu estrídulo de bronze grave,
e a maçaneta pesada como um
cadáver amarelo...

Agora é tudo branco e silencioso e sacramental
e coberto de panos. Meu passado teve seu
rigor mortis.
Já passou o prazo de ter prazos.
O tempo me devorou, querida,
E me cuspiu para outro instante.
Sou resto
Ou excesso. Alguma coisa entre essas duas.
E a morte,
Ainda me acontece, como um golpe surdo
No meio do mar,
E as ondas, ainda perpétuas,
Abrindo seus longos braços
Sem vida,
Na lentidão das nossas, como uma arraia
flutuando
e devorando tudo quanto já fomos.

Não podemos mudar
o que foi.
E esses panos que deito
Para um sono quase eterno (até que o
mofo se lhes corroa) são a prova
de que precisava.
Para tudo olhamos com saudade,
E para toda realidade
esperamos um fim. A cada tempo, estático.
Olhamos para traz, e lançamos
um olhar repleto de movimento,
de movimento desastrado entre ídolos quietos.
E com nossas mãos
imaginárias, tentamos demover
Todas as peças que não demovemos. Mas é tarde.
É tarde para mover peças,
É tarde para que engrenagens mortas
Girem o organismo das coisas.
E se tivessem girado? Teriam girado no sentido correto?
Sempre tenho esse desejo,
esse desejo e esse crime,
De mudar o que não foi,
e torná-lo.
Mas que panos cubram minhas palavras também,
E o SIM, na caligrafia de minha avó enterrada,
Zombe de minhas palavras grosseiras contra
a vida.
A natureza me espera,
E eu não tenho mais tempo algum de consertar as coisas.
Que eu seja também coberto,
E descoberto lá na frente;
Que as caixas me segurem
Enquanto me puderem segurar: pois salto ao mundo
Como um ladrão de túmulos,
Tirando, pela mão,
todos os mortos a dançar.
Espaço,
Distância,

A estrada, à noite, fica cheia dessa luz estranha
e congelada.
Parece que a noite também congelou
Em cristais bem
Finos
Finos e reluzentes,
Como centelhas minúsculas
de estrelas
Oblíquas.

E se tudo acabasse agora?
No fundo deste copo sem Deus
Eu vejo um sorriso
Vazio e desesperado.
Já não tenho a chama
A chama
A antiga chama...

Algo me chama, enquanto dirijo ao teu lado:
Acho que é aquele lampejo
Amargo
De verdade.
E na verdade, contei tantas mentiras,
Desenhei tantas ilusões,
Que já me perdi nas contas,
Que também já sou ilusão.

Os bons livros são mentidos
A torto e a direito. Mas minhas
Páginas já sumiram no vento
Escuro e sem estrelas.
A tinta está toda borrada na minha língua afiada
E amarga,
E estúpida.

E eu sou esta roda
Sem destino
Girando, girando, girando pela noite,
Devorando milhas
E curvas onde escorrega o mais tênue silêncio.
Eu não sei,
Não sei para onde fujo. Gravidade
Me trazendo para dentro,
Ou me expulsando
Para longe das órbitas dos teus olhos.

E eu deixo,
E eu deixo que tudo se acabe,
Desintegrando
Como a neve que nunca vimos,
Como a luz que nunca sentimos
Sobre nossas cabeças
E os nossos corações revoltados,
Ás vezes sem porquê.

E eu deixo,
Que a erosão das chuvas
Dissolva a estrada em que percorro
E giro
Meus sonhos falecidos;
E eu espero,
Que um acidente
Me traga de volta à vida
Que nunca vivi,
E que um leve gosto de realidade
Seja o meu ponto de impacto
Para finalmente
Voar em direção a mim.



segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Minhas mãos (olho para baixo); entre elas, outra. Outra mão. Outra mãozinha estúpida, nojenta. O quarto: negro, profundo. Mão branca entre minhas mãos brancas. Como um brinquedo moldado em plástico, mas crivado de uma humanidade úmida, sebosa. Tinha dedos frágeis, que se contraíam a cada apertão que eu lhes dava. Talvez eu quisesse estrangular aquelas cabecinhas com unhas moles, aqueles cerebrozinhos brancos, irritantemente brancos. Eu sempre quis estrangular uma criança muda. E não era que nada se dizia? Nada se dizia. O silêncio era aquele pretume disforme, vaporoso. Havia água no ar, e janelas que deixavam aquela matiz de carvão digesto escoar para dentro. Repentinamente, uma mão estava entre as minhas. Plástica e estúpida. Mão branca entre minhas mãos negras. Cortada, como que por grafites enviesados, manchando aquela pureza elefântica, aquela lentidão pálida e doentia que se esgueirava entre minhas palmas. E além daquela mão de deus algum, de santo algum, nada que divisasse: um cotovelo, talvez. – que cotovelo? De quem? Não importa. Um cotovelo cindido por lâmina de alguma sombra, por uma cortina de fantasmas todos calados, todos em postura grave e vertical. – cotovelo, riscado cotovelo, e antebraço, sem veias: a vida ali era discreta e quieta. A perturbação era apenas a minha, escorregadia. Uma perturbação sem porquê. Um aperto misterioso em meus pulmões; minha respiraçãozinha, minha respiraçãozinha débil, esgoelada, soluçante... Por sorte de alguma substância eu sentia meus ossos comprimindo-se; a respiraçãozinha, os pulmões jovens, rosados, como balões vazios, subindo ou descendo; o teto, o teto descendo. Eu sentia as dimensões surdas daquele lugar, próximas, muito próximas; as linhas, a geometria daquele sofrimento enigmático, beijando meu rosto de algodão manchado. O cálculo era preciso. O braço era de uma anatomia perfeita. Eu não era nada, então. Era aquele estímulo, aquelas mãos, aquele pensamento engaiolado, em disparate, debatendo-se contra as barras (e a ilusão, e eu sei que era ilusão, de que o teto baixava e subia); eu era o teu pássaro. E o teu pássaro era alguma coisa ali, estática, longe do futuro e do... Qual! Isso não importa, criaturinha. Eu sequer te vejo. Tu, sem olhos. Tu, sem cabeça ou peito. Tórax, onde? O vazio perscrutável de todas as minhas idéias loucas de que tu era digno, digno. O abismo, a cama. Agora vejo as barras da tua prisão, tua gaiola de ossos de madeira, onde debatiam-se tuas preocupações, tua angústia nervosa e essencial. A cama de mogno, o travesseiro. Nada descansa. Eu parado. De pé. Em velório? Nada morre. Tudo subsiste aqui dentro, como uma água de poço, escura e lodosa; um abcesso, um coágulo misterioso. Aos poucos os teus pés, os teus malditos pés solitário. Cortes de alguma sabedoria cirúrgica, pois eram cirúrgicos os teus pés, duas botas de algum ser humano desprovido de pés. A pele inerte, a pele completamente inerte e parada, como o ar. Um relógio de pulso, estirado no meio; teu cérebro tinha suas engrenagens, seus segundos perdidos, suas horas esperadas. – Agora lembro que vivias correndo de qualquer coisa, e este relógio, de engrenagens soltas, polvilhando o lençol liso com seus fulgores prateados, seus espelhinhos de horror e loucura rodopiantes. E eu, segurando a mão, a mão escura e invisível. Os dedos são retângulos. O braço é retângulo. Tudo à frente se disfarça de nada. Meu braço, esticado como uma cobra ou uma vara de madeira. Eu olho. Toco o alarme. Nada. Nem alarme, nem botão. Meu dedo afunda em qualquer coisa. Meu braço dói. Por que esticado entre aquelas mãos horríveis por tanto tempo? Sentia-a me apertando, me afogando em uma carícia venenosa. Eu já estive aqui antes. E eu espero, espero que o tempo passe; meus pés esticados; minhas mãos esticadas. Estou em alguma dimensão estranha, sem ser sono ou realidade. Hostilidade, sim. Hostilidade a tudo, mas ainda... ainda que pronto para soltar aquele organismo nervoso, ainda assim... mas ainda, ainda que pronto para soltar aquele... mas ainda... ainda que sim, ainda que pronto para aquele organismo me soltar de novo, eu me agarro como a um objeto em pleno mar, e pleno mar é mar em meus ossos, em meu mundo ósseo, em minha dimensão paraplégica, em pleno mar e mar e braços e mar, fúria densa, corpo de água escura revolta, e aquela mão, aquela mão surgindo das vagas e apertando as minhas com um amor soberano, estrelar. Ela deseja me puxar, para além de seu espelho salgado; mas eu não quero, largar ou mergulhar naquele cristal ardente; eu quero ficar aqui, com as minhas coisas, as minhas coisinhas preciosas, os meus ódios e as minhas paixões torpes. E o pássaro, que eu vi desferir o vôo no infinito do mar, desapareceu, roubando minha sombra, minha linda sombra, para sempre; em seu bico, ó diabos, em seu bico ele levou um ramo de mim e o perdeu entre as montanhas golfejantes de escuridão profunda e aquática. E o pássaro, que eu vi desferir o vôo infinito dentro de mim, ele perdeu minha sombra e levou minha paixão torpe e vazia para a espuma e além dessa...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Não! Eu nunca fui nada disso,
Disto aqui.
Nunca estive por cima, ou por baixo...
Nunca.
Sempre à meia distância, de tudo.
Sempre preparado para dar no pé.
Porque é assim que eu sou?
Porque é assim que eu sou, talvez.
Ansioso para dar no pé.
Angustiado, ferido.
Ferido? Pelo quê, diabos!? Pelo quê? Eu não sei.
Talvez pela vida. Talvez. Provável que não. Provável que a vida
Nunca tenha me ferido. Provável que eu finja que tenha me ferido
Pela vida. As pessoas estão na vida. As pessoas...
Que me importam as pessoas?
A liberdade que eu aspiro é límpida como os rochedos.
Mas não esteja eu me ferindo nos rochedos?
A minha liberdade é a minha prisão.
Essa falsa sensação de que posso escapar.
Minha poesia - e nem sei por que diabos a chamo assim -
Tem sido isso a vida toda: derrota? vitória? ignorância.
Ignorância do que passa por mim. Por mim, eu digo! Mas há
Tu.
Tu aqui.
E eu te olho, com curiosidade.
E me procuro.
Não há o que encontrar.
Não há porque eu me aproximar demais
E ser engolido pelo teu mundo.
Até porque eu nada poderia oferecer
Já que perdi o meu.
Quem eu sou? Vou lá saber! Qualquer coisa.
Qualquer coisa que queira.
Qualquer coisa que não queira.
Acho que só quis te machucar
Para que você se parecesse comigo.
Machucado! Eu? Bobagens! Eu sou forte, criança.
Sou um touro. Brinque comigo, eu não me importo.
Estou aqui apenas pelo jogo de me perder.
Em ti.
Me perder em ti.
E me reencontrar a mim...
Ah, que falo? Tolice de poeta - e ainda ouso me considerar um!
Nunca fez sentido isso tudo.
Nunca fez sentido me perder porque nunca me tive.
Nunca me tive.
Mas atrás do que corro?
Para não ver o quê que fecho os olhos, assim, com força? O mundo
Me assusta. Mas há mundo? Há mundo que me assuste? O teu,
O teu mundo é perigoso. Perigoso para alguém que vai embora,
Sem a pretensão de estar em mundo algum.
Perigoso porque sinto saudade
De ter chão batido e estrada,
De ter palavra escrita e bebida quente derramando pelo meu beiço estúpido.
Se fecho os olhos, desce um lapso de negro profundo e criminoso
Sobre o meu mundo. Eu só quero esquecer
Que um dia esqueci de algo importante.
Que perdi? Eu não faço idéia! Eu não faço idéia do que perdi,
Se é que tive,
Se é que tive para perder. Sou um angustiado
Por ter coisas para perder.
Só assim consigo pensar
Que algum dia tive algo
Algo que pudesse chamar de eu.

Eu me rendo, entende!? Me rendo. Me rendo a ti,
e a todos. Eu não sou tudo aquilo que pensava ser.
Não sou metade de ti, que dirá alguma coisa?
Minhas lágrimas pelo preço das tuas.
Sou o espelho insensível
Desafiando o rancor nos teus olhos.
Eu sempre fui muito sensível,
Sempre tive muita raiva dos teus grandes olhos.
Eu rezei, é certo, rezei muito
Para ser real.
Mas eu não sou.
E você sabe disso, lá no fundo,
Que eu não sou real merda nenhuma.
Eu quis ver uma realidade brilhante,
Eu quis ver uma realidade escura,
Mas o cinza da questão é todo o ponto final
De como as coisas são: abrupto e simpático.
Realmente simpático.
Eu não aceito! Eu não aceito! Eu não aceito
Nada do que me dizes.
Eu sou real! Eu juro! Desesperadamente real.
Talvez surreal.
Talvez duplamente real. E se for? Qual o problema?
É realidade demais para um só.
É mundo demais para caminhar.
Mas não há retorno possível no vazio,
Apenas o silêncio invisível
Das minhas palavras improvisadas, do meu discurso arrogante.
Sim, pelo silêncio eu te conquistei,
E em silêncio te sepulto, anjo em silêncio.
A lua caminha sob tuas asas,
E eu, enfim, te arrebentei como mereceste,
Por ter me perdido em teu caminho
Sem ida ou volta.
Por ter me enganado, Deus, e como me enganei!
Por ter me enganado, principalmente,
De que eu poderia com tudo isto.
E eu posso!
Mas como em enganei
Que seria fácil ser real.
Eu não quero voltar no tempo. Tempo pra quê? Os relógios podem parar
De tentar marcar o compasso da minha existência.
O passado que fique para trás. O que foi, foi. Não posso mudar. Ainda que quisesse!
Ainda que pudesse...
Mas não posso.
E não quero.
O passado pode ficar bem onde está - ou lhe darei um murro no nariz.
Talvez eu ainda recorde o quanto fui feliz, no passado...
Mas que não seja eu hipócrita de não recordar que também não fui feliz!
Minha alegria está aqui,
Na destruição dos segundos,
Na obliteração do dia em noite.
Meus passos demarcam o limite;
minha cegueira é o meu novo vício: abrir os olhos pela primeira vez
E rir, como um doido! Eu disse um doido!? Meu mundo é o mundo de
vocês, e meu também. Acham isso loucura de um louco,
Ou loucura de um sábio? Que me importa! O sábio e o louco se dão as mãos,
E fica difícil saber qual é qual.
Mas eu não sou louco, não.
Sou apaixonado. E é simples assim.
Se você não gostar, haverá quem goste...
Mas talvez eu me importe com você.
Talvez eu queria que você abra os olhos
E tenha por vício as cores que enxergo
E as formas, as formas, as formas! São lindas, não são?
Tão perto, tão perto! Ah! Cansei...
Cansei de estar seguro. Cansei desse labirinto de espelhos.
Eu não estou aí, na tua superfície. Eu estou aqui! Aqui dentro
E tão silencioso... E tão compreensivo...
Eu acho que o silêncio não poderia ser mais confortante!
Minha casa é o meu coração, e eu deixo você entrar
Se não fizer muita bagunça
E me ajudar a limpá-lo, três vezes por semana.
Que o passado seja esquecido
Ou cosido em meu fogão. Podemos comê-lo com azeite
E queijos deliciosos.
Que importa o Passado, afinal?
Que importa o Futuro, afinal?
O Presente é o nosso presente,
E é bom agarrá-lo pelos cabelos, e não deixá-lo escapar como um rato.

Que lindo é o caminho de volta! De volta para casa.

Já nem recordo como a deixei - os jardins, os jardins!

A natureza deve lá estar morando,

Deve lá ter deixado os pássaros coserem ninhos

De luz e matéria.

Eu, que por muito tempo tenho estado aqui em cima,

Estou cansado de estar sozinho.

Quero amar novamente as sombras na varanda,

E as árvores de raízes saudáveis e fortes

Que deixei há tempos.

Eu, que por muito tempo amei as montanhas,

Mal percebi que tomei-lhes à semelhança!

Que feios eram os dias frescos

Sentado junto às rochas! A solidão

Já não me comove mais.

Eu mesmo me tornei pedra! Sentado, na mesma posição,

amando as folhas que caem e são levadas pelos ventos.

Eu não sou folha e aqui permaneço!

Que chato é permanecer aqui, olhando lá para baixo,

os homens e a dança dos homens!

E, quem sabe...? Não, não! Ou sim? Sou eu ali, a dançar?

Não. Eu não estou lá para baixo,

Mas lá adiante, onde os vales balançam os ventos esverdeados,

E a minha morada abriga o vôo

das vespas e dos passarinhos.

E eu vou lá para baixo! E é já! Que coisa... Abandonar essa

Montanha fria! Aqui tenho estado seguro, mas minha alma

Deseja vôos rasantes com a vida.

Minha alma deseja as vagas silentes e o reflexo

Divino nas fontes.

É preciso deixá-la, montanha, para que outro a suba.

Mas que outro me importa! Eu devo descer-te

Com a aurora nos cabelos, escorregando alegre

pela areia vacilante das rochas. A ti eu volto, minha terrinha

Querida.

Que quis eu aqui em cima? Que quis eu aqui embaixo? O céu

Não me pertence, nem a terra, tampouco o mar.

Quis eu pertencer ao céu, à terra ou ao mar?

Queira eu apenas pertencer e retornar

aos jardins que cultivei há tempos!

O mundo é grande demais pra mim! E o universo muito mais!

Melhor talvez seja eu largar essas baboseiras,

E dar uma boa varrida na minha varanda.

Eu quero voltar para o meu amor

Onde a Natureza virou hóspede.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Hoje, o dia de nós

Senhores entre os senhores.

Hoje, o dia de nosso

sacrifício:

Lembrar.


Nossa pequenez é

a nossa arma:

Somos infinitos

Enquanto

Indiferentes.

Somos fortes

enquanto sangrarmos.


Hoje caminhamos

à praia

e a percebemos

coberta de vida.

Nossa violência

são os nossos passos.

Nosso crime

é o amanhã.


Despertamos entre

as areias

de nós mesmos.

Duas rochas

na erosão de nosso caminho.

Rolamos e amamos

o precipício

de nossas almas.


Por quê? Por que

com tanta violência

disparamos contra o vazio?

Hoje, o dia de nós,

Senhores entre os senhores.

Minha poesia não está para a vida

e nem para morte.

Está para a tua mão.

A tua mão inerte sobre a minha.


Minha poesia está para o silêncio,

o amargo silêncio das tuas ilusões

perdidas.

O teu desespero não interessa para a minha poesia.


Como pode ver, eu sou um homem brutal,

mas ainda um homem.

E o meu amor é a semente

Lançada no caos e no suspense.


Eu pretendo o mar, não por sua beleza

Mas pela sua volubilidade.

Eu quero as ondas, que sempre se renovam

E sempre me perdem.


Eu não escrevo poesia para viver para sempre.

Escrevo para morrer.

Hoje, agora.

Eu escrevo para nos destruir.

Os sóis que amaste

São escuridão em nossos olhos, fresca

e límpida. Nós somos

os assassinos esperados

pelo amanhã. E estes versos

São para o nosso grande crime:

não permanecer jamais.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Grandes e perigosos
Como a onda
Que desgasta os corais
E desmancha as margens
do mar:
Teus olhos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

poema inesperado

Atrás desses teus olhos
eu vejo qualquer coisa sem luz.
Eu quero morrer
bem no fundo secreto dessas pesadas cortinas.
Eu não quero ser ouvido, nem ouvir.
Desaparecer.
Atrás desses teus olhos eu não quero ser nada.
Quero te ser.
Ser tu.
Atrás desses teus olhos eu sou uma
negra semente,
florescendo, lentamente,
no vazio. O meu amor não é dor
e nem ardor: é silêncio
e ondas de mar. É a tranqüilidade
do pássaro azul,
da espuma de diamantes salgados
encobrindo nossos passos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ironia

Tem linhas na vida que não se apagam,
Tem linhas na vida que escrevem o teu nome
Em pedra, mármore, aço, ou o que seja.

Há cores que não se esgotam,
Nem pela noite, nem quando as nuvens
Apagam o céu e o mar.

As lembranças afluem como pássaros,
Pássaros de água e ar,
batendo asas de papel fino e transparente.

Você não os vê, mas os sente,
Rasante em seus võos calorosos,
Distantes e, ao mesmo tempo, tão próximos!

O que desenhaste na areia do tempo,
desapareceu com o tempo.

O que desenhaste - eu, tua criação -
Já é sombra do que foi, e não está mais lá,
se não aí, onde mais te ocultas, teu ser inteiro:
Coração.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pássaro Negro


Tu, que desfia o silêncio dos meus gestos,
Tu, na espreita dos meus sonhos:
Eu lembro de ti.

Eu lembro quando tu, mansamente,
devorava o meu coração, abrindo uma cavidade funda e sombria.

Eu lembro quando tu, ave de Prometeu,
Puxou uma a uma as fibras do meu corpo
e da minha alma fez um ninho
crespo para o teu sono.

Tuas asas negras abraçam o vôo
do meu espírito,
E eu já não vejo cidades ou fortalezas: apenas terra e mar.

Eu vôo contigo, mas para longe de ti.
Eu para a luz, tu para a sombra,
- minha sombra.

Para as sombras das minhas mãos, para
a luz dos meus olhos,
Tu é a escuridão alegre da chuva,
Se desfazendo em bruma,
Me desfazendo.

O ruído das tuas penas, majestosas e tímidas,
sempre me desperta do meu grande e longo sono.

Tu sempre esteve aqui,
o bico molhado no meu ser,
Saudável e saciado desta fonte morna.

Tuas garras douradas, penetrando
em meus pensamentos como agulhas
ou poesia;

dor e júbilo, unidos pelo laço que
cortamos.

Enfim, demônio abrupto,
Eu já não tenho alma para vender
Em troca de felicidade, ouro, mar.

Mas a pedra que eu pensava ser
agora está coberta pelo musgo;
e a vida prolifera em mim, de dentro
para fora.

E a pedra está na costa, defronte
para o oceano,
Bela e cruel.

O mar rompe em seu dorso,
e restos de corais a vestem como um manto.

E tu? Para onde voas agora?

O céu que tomaste para ti
É uma pedrinha nua e azul,

E tu, tu, ainda esperançoso,
de que haja qualquer coisa como o destino
te esperando na outra margem,
bate as asas alegremente,
levando um pouco do que eu fui.

Mas tu, pesadelo da luz,
sempre voa para mim,
e eu sempre estou ali.

Indivisíveis, nos confundimos nas águas
e morremos juntos, plenos.

Indivisíveis, as nuvens que amaste
gravitam em minhas águas,

e tu te perdes
onde eu te encontrei:

aqui,
e para sempre.


segunda-feira, 14 de março de 2011

[...]

(Para uma amiga.)

Pode parecer uma grande idiotice, mas eu gostaria de poder te salvar. Salvar a tua alma, sabe...? Talvez assim eu pudesse ter a ilusão de que salvei a minha.

Não, eu não acredito no Demônio. Inferno, talvez... É essa tua falta de esperança nas coisas. Eu não tenho esperança em nada, também. Olha o que estou dizendo! Eu, o "grande otimista". Sou mesmo um hipócrita.

Eu também estou danado, de alguma forma. Eu sinto que já não sou mais o mesmo, tu sabe... Não tenho mais o mesmo vigor, a mesma vontade de viver. Não neste mundo, feio e medíocre. Não ao lado destas pessoas, restos de corpos ambulantes. Narizes, olhos, mãos, orelhas amputadas. Restos. Estou entre restos.

Pode parecer uma grande idiotice, mas eu gostaria de salvar a tua alma. Talvez eu recebesse um perdão do mundo, uma condecoração babaca no peito, qualquer coisa assim, que fizesse eu me sentir importante. Eu sei, eu sei que é impossível. Você já está prestes a embarcar; os ventos sopram ao teu favor. As velas, as velas! Os pequenos barcos, ao longe, singram para nenhum lugar.

O que? Eu não consigo te ouvir. - Os ventos, os ventos! - Sopram violentamente. Eles nos separam, milhas e milhas. As águas são geladas e azuis. O sol não se reflete nelas; gelado e azul ele é uma cabeça esquálida no céu. Gelados e azuis como os teus olhos, as águas embalam palavras vazias de consolo. "Eu não pude, eu...". Ontem foi domingo, e eu não fiz nada de novo. As areias descobrem minhas pegadas, e logo as encobrem outra vez com um tecido áspero de nada...

- Nada neste mundo irá perdurar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Fumegante, o grito
Dispara a agonia do vidro
De todas as janelas desta casa.
O corpo tomba sobre seus braços;
Ele diria adeus, se tivesse dentes
Para sorrir. Vai-se silenciosamente, entretanto,
para
Nenhum lugar.
Parece dormir sobre um leito de rosas
violentas. As pétalas carnívoras embebem-se
orgulhosas.
As patas da morte desgrenham seus cabelos;
- Ela se aproxima! -
Uma língua escura
Lambe-lhe o cenho, cobrindo-o de sombras esguias.
Viram-lhe o corpo; lãminas ósseas
Escapam pelo focinho: não se parece com um homem
Enquanto não tiver um nariz de homem. No lugar
Uma cava escarlate,
Onde gênios invisíveis bebem o gole sangrento.
Belos, seus dedos congelaram: pedia socorro?
Seus olhos, azuis, fecham suas portas
Deliberadamente. Sua garganta se desmonta
Sobre o látex: um último suspiro
De sua traquéia, e a sombra daquele homem
Se desfaz.

Violento, eu nasço;
Destruindo óvulos, placenta, entranhas; devorando o fígado
e os pulmões com dentes absurdos de mármore;
o hálito da vida de minha mãe cedo
se dobra em minha língua. Nem mau
Nem bom: apenas eu, repleto
por uma camada de pêlos hirsutos,
Banhado pelo nascimento como um touro jovem e cego.
Meu coração dispara. Bomba.
Tambores tribais, enervantes, destruindo tímpanos negros,
Elevando terríveis vozes e mais vozes, pilhas de corpos horrendos,
e huris, e danças, danças ósseas diante do fogo, repletas de
membros e taças transbordantes.
Chamas sobem e descem, sobem e descem
Como pêndulos, como instrumentos de cura e navalhas
De rocha afiada, e tendões azúleos, e como os braços do amigo decepado por uma arma branca, no
deleite de um espasmo elétrico...
Nos meus olhos: caldeirão onde
o Sol deixou-se cair, há trevas sendo corroídas pela luz violenta e salgada. Nos meus olhos tudo, tudogira com imperfeição.
O mundo cai; o abismo me encontra; Eu cavalgo costelas jovens; dorsos nus;
Minha língua está em teu coração, em teu coração; Uma serpente de rubi;
e meus dedos, galhos repletos de neve de ti, secos e afiados,
digerindo tuas castas asas brancas.

Sinto o cheiro de nuvens e mar;
Corro, sobre minhas patas,
A engolir nuvens e mar.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

1.

Uma cabeça de Sócrates
Vem perturbar o meu sono.
Sou um homem curvo,
Em uma vida curva,
sem propósitos.
O corifeu me olha;
Estou estarrecido,
e estou entre os coristas;
ele espera
que a minha voz se projete
como uma onda
Para fora do meu centro de gravidade.
Mas tenho medo,
E me calo.
E me calo.

Eu tento, e faz meses
Escrever
O teu nome, e o nome das flores.
Mas no mundo não há tempo
Para o que não seja plástico.
Mastigo lembranças
e sorrisos falsos.
Minha caneta tem uma
escura tinta de crueldade.
E eu sou finalmente
Mau e baixo,
Como uma criança.


2.

Olá, espelho.
Olá.
Amigo.
Espero que não se importe
Em ter-me outra vez.
Sou teu.
Desfeito,
sou como a água
e desmancho montanhas
de braços azuis
e brinquedos espalhados por um longo quarto de paredes brancas e encardidas.

Eu tenho músculos tesos;
Eu sou o suicídio da luz.
Como um ator,
Ou um cavalo à galope,
eu me lanço no fogo
e na escuridão.
Eu sou a combustão
Da música.
Silêncio, para fora
E para dentro.
Dedos e vidro,
Espelho, olá.
Eu cavalgo
A tua superfície.
A insanidade é apenas
Uma terra prometida.
Condenado á luz,
eu procuro
uma voz que seja minha,
e te abraço,
Com todo o meu corpo
jovem e sem forças.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

OFICINA DO SURTO.

Quero enlouquecer, uma vez que sou mau e podre. Quero sentir raiva, muita raiva. Quero ser decepado pelo ódio; quero que os cavalos selvagens cavalguem sobre as minhas costelas. Pisoteado, serei medonho e tetraplégico. Meu cérebro escapará por uma fenda minguante. Uma chuva de seringas caíra sobre o meu crânio, e os gafanhotos devorarão os meu intestinos. O doutor enfaixará meu rosto inteiro e sentirá medo. As enfermeiras sussurarão "feio e mau". Mesmo a criança perceberá que não sou um paciente comum. Meus ossos serão afiados, e meus dentes serão como os da hiena. Serei carniceiro e amarei a barbárie. Deixarei o sol corroer a minha pele. Serei negro e terrível, como um nômade africano. Matarei a pedradas. Terei por prática religiosa o canibalismo, e meus olhos serão estreitos como o meu intelecto. Mastigarei os ossos dos meus amigos; os olhos dos meus inimigos. Cortarei os tampos das cabeças dos meus pequenos irmãos e os deixarei ao sol; serão as cegas esculturas da violência. Jogarei Deus na areia movediça, e o escutarei pedir socorro. Ele gritará, atrás de sua barba e de sua sabedoria; o deserto comerá o seu fígado divino; o calor torcerá suas veias e o costurará à terra. Gritarei como um louco, e arrebentarei a minha própria garganta com as unhas. Sangre, minha alegre vida, sangre até a última gota! Serei violento como o fogo nos cabelos da humanidade.