Não! Eu nunca fui nada disso,
Disto aqui.
Nunca estive por cima, ou por baixo...
Nunca.
Sempre à meia distância, de tudo.
Sempre preparado para dar no pé.
Porque é assim que eu sou?
Porque é assim que eu sou, talvez.
Ansioso para dar no pé.
Angustiado, ferido.
Ferido? Pelo quê, diabos!? Pelo quê? Eu não sei.
Talvez pela vida. Talvez. Provável que não. Provável que a vida
Nunca tenha me ferido. Provável que eu finja que tenha me ferido
Pela vida. As pessoas estão na vida. As pessoas...
Que me importam as pessoas?
A liberdade que eu aspiro é límpida como os rochedos.
Mas não esteja eu me ferindo nos rochedos?
A minha liberdade é a minha prisão.
Essa falsa sensação de que posso escapar.
Minha poesia - e nem sei por que diabos a chamo assim -
Tem sido isso a vida toda: derrota? vitória? ignorância.
Ignorância do que passa por mim. Por mim, eu digo! Mas há
Tu.
Tu aqui.
E eu te olho, com curiosidade.
E me procuro.
Não há o que encontrar.
Não há porque eu me aproximar demais
E ser engolido pelo teu mundo.
Até porque eu nada poderia oferecer
Já que perdi o meu.
Quem eu sou? Vou lá saber! Qualquer coisa.
Qualquer coisa que queira.
Qualquer coisa que não queira.
Acho que só quis te machucar
Para que você se parecesse comigo.
Machucado! Eu? Bobagens! Eu sou forte, criança.
Sou um touro. Brinque comigo, eu não me importo.
Estou aqui apenas pelo jogo de me perder.
Em ti.
Me perder em ti.
E me reencontrar a mim...
Ah, que falo? Tolice de poeta - e ainda ouso me considerar um!
Nunca fez sentido isso tudo.
Nunca fez sentido me perder porque nunca me tive.
Nunca me tive.
Mas atrás do que corro?
Para não ver o quê que fecho os olhos, assim, com força? O mundo
Me assusta. Mas há mundo? Há mundo que me assuste? O teu,
O teu mundo é perigoso. Perigoso para alguém que vai embora,
Sem a pretensão de estar em mundo algum.
Perigoso porque sinto saudade
De ter chão batido e estrada,
De ter palavra escrita e bebida quente derramando pelo meu beiço estúpido.
Se fecho os olhos, desce um lapso de negro profundo e criminoso
Sobre o meu mundo. Eu só quero esquecer
Que um dia esqueci de algo importante.
Que perdi? Eu não faço idéia! Eu não faço idéia do que perdi,
Se é que tive,
Se é que tive para perder. Sou um angustiado
Por ter coisas para perder.
Só assim consigo pensar
Que algum dia tive algo
Algo que pudesse chamar de eu.
Eu me rendo, entende!? Me rendo. Me rendo a ti,
e a todos. Eu não sou tudo aquilo que pensava ser.
Não sou metade de ti, que dirá alguma coisa?
Minhas lágrimas pelo preço das tuas.
Sou o espelho insensível
Desafiando o rancor nos teus olhos.
Eu sempre fui muito sensível,
Sempre tive muita raiva dos teus grandes olhos.
Eu rezei, é certo, rezei muito
Para ser real.
Mas eu não sou.
E você sabe disso, lá no fundo,
Que eu não sou real merda nenhuma.
Eu quis ver uma realidade brilhante,
Eu quis ver uma realidade escura,
Mas o cinza da questão é todo o ponto final
De como as coisas são: abrupto e simpático.
Realmente simpático.
Eu não aceito! Eu não aceito! Eu não aceito
Nada do que me dizes.
Eu sou real! Eu juro! Desesperadamente real.
Talvez surreal.
Talvez duplamente real. E se for? Qual o problema?
É realidade demais para um só.
É mundo demais para caminhar.
Mas não há retorno possível no vazio,
Apenas o silêncio invisível
Das minhas palavras improvisadas, do meu discurso arrogante.
Sim, pelo silêncio eu te conquistei,
E em silêncio te sepulto, anjo em silêncio.
A lua caminha sob tuas asas,
E eu, enfim, te arrebentei como mereceste,
Por ter me perdido em teu caminho
Sem ida ou volta.
Por ter me enganado, Deus, e como me enganei!
Por ter me enganado, principalmente,
De que eu poderia com tudo isto.
E eu posso!
Mas como em enganei
Que seria fácil ser real.
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