terça-feira, 30 de agosto de 2011

Eu

Atrás da porta do meu quarto,
Que nunca está completamente fechada por uma questão de hábito,
Há alguém
Me esperando.
É sempre pela noite que algo me espera (nunca pelo dia).

Deito-me e fico a encarar
Olhos invisíveis
Sonhando
de pé.
É sempre alguma coisa, e está sempre de pé, respirando
Calmamente. Não há qualquer vestígio
De ansiedade.

O que é que me espera, eu não sei. Sei que está lá,
Em silêncio,
Estudando-me como um animal de alguma experiência obscura.
Se me quer bem, se me quer mal...
Eu não sei de muita coisa.

O que me angustia,
é saber que há algo a ser esperado. Se de mim,
Ou se eu mesmo,
Se meu despertar ou adormecer...
Que sei eu dessas coisas?
Sei que estive esperando pela espera de alguém
Ou de alguma coisa.

Se de mim ou de outro...
E se eu for outro e estiver esperando por mim?
E se...
Nunca fecho completamente a porta do meu quarto,
E deixo que o vento de uma dúvida me seqüestre.
Se me levar para onde, para longe...
Que me importa?

Desde que eu vá para algum lugar.

. . .

Súbito
Súbito acordo.
Súbito.
Uma centelha explode em minha testa.
Têmpora,

Cabelos escuros,
Tudo
Elétrico,
Tudo obra de alguma luz
Que desfaz sombras
Como lã.

E se estive segurando um novelo,
Por um labirinto de
mentiras,
Sim, mentiras,...
Ainda estou sendo guiado?
Ainda...?
Ainda. Ainda estou aqui.
Mas que...?

Que lugar é este?
E que cama, que lençóis, que cheiro,
Que brisa é essa que invade
o espaço?
Não é minha.
Estas roupas...

Com que semelhante surpresa
Eu poderia experimentar
A textura do desconhecimento?
O espelho nunca
Nunca me refletiu antes?
Os traços deste rosto não existem.
É de um outro rosto
E com horror reconheço que não estou.

Onde estive?
Minha alma, se é que existe alma,
esteve sempre aqui?
Não recordo de ter deitado minha cabeça no travesseiro.
Parece que acordei e nasci.
Parece que morri.

. . .

Vou-me embora para longe,
Vou-me embora para mim.
Se chegarei, não sei.
Não sei de nada.
Só sei
Que não estou aqui.

Se estivesse, não sentiria
Essa angústia nervosa de sair à rua com pés de outros homens
Embaixo dos meus.
Sei que são homens decentes,
E que todos eles têm pés muito particulares.

Os meus não deixam rastros.
Meu vestígio é a indiferença.
Teu coração já foi bombardeado por tantas palavras confusas
E agressivas... Nem reconheço em tê-las dito.
Talvez não tenha, mas isso são outros quinhentos.

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