quarta-feira, 24 de novembro de 2010

.............

Mãos que despencam
Que regem soçobros
Mãos
Que deslizam na madrugada
E costuram palavras insones
Que desenlaçam
Negros astros sem pálpebras.

Coágulos elétricos
Ansiedade
Cigarros acendendo rubis
Riso de gaivota, sobre águas pacíficas -
Estacas de gelo rolam
Sobre
Vértebras curvas;
Gotejando o impacto
Que o meu nome
Desfere
No quadro que olhas, gotejando
Os contratos
Que assinamos a cada tolice.

Meu nariz - Grave Cícero!
Quase fala o latim
Quebrado
Dos poemas de Cátulo
Ou das lápides do Etna.
O olho turvo mira
Tua boca paralítica.

Grave sono
Leva as cinzas
Como um vento sem cortinas.

?

Teus olhos são sementes azuis
Gravitando e
Penetrando o cristal
Líquidos
Como suas pequenas retinas.

Pulmões de diamante
Sôfregos assopram
Areia em lábios fundos como chagas;
Queixo de mármore que mordo.

Anêmona de safira, buscando um leito no abismo
Que teus cabelos emolduram. Meu rosto
Afunda no silêncio.
No alvo silêncio da página.

Negras asas espicham cílios lunares;
Tua boca voa; garça delicada
No inverno de um espelho.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

(...)

Vidros gotejam gritos
Luz na lanterna que apaguei

Vigia insaciável
Na escuridão de aço;

Solidão de cápsulas vazias
Grades que não balançam.

Vagalume como o enxofre
Que corrói
Os panos sobre os mortos,
Os panos sobre os vivos.

Máscaras de gesso
Pus
Sobre ti, ó cadáver, ó pedaço de necrotério!
Pus sobre ti, ó cadáver, o quê?
Máscaras de gala
Para o baile da morte.

Teu rosto, oculto assim, júbilo de planetas que afundam,
Que afundam na escuridão incoercível dos mares.
Como a navalha em minha carne
Como o gelo nos galhos ósseos
Eu te ocultei, fundo, fundo.
E nas vértebras e no sol

Gaiola de veneno
Gaiola de olhos sem par
Gaiola de arcos, e olhos,
olhos arqueados sobre a manhã.
A manhã sangrenta dos nosso Destino.

Metacarpos deslizando, deslizando como a água das chuvas
No calçada de vidro gris.
Dorsos que se espicham; braços rasgam sudários:
Sol sobre as colinas,
E o trapézio do homem que nasce.
Amanhã, em certa hora, terá sua sombra
Morna na boca.

Sonha a lua de amoníaco
Com teus olhos desaguando,
Livres e gélidos,
Em rio:

Sossega a palavra
Que rasgo com essas presas;
Sossegam teus olhos;
Mercúrio e voz
Que se calam na escuridão.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Beijo Tépido

Beijo Tépido.


Braços de noite
Fecham
Cortinas sobre meus olhos.

E um mundo
Despedaçado contra a janela
Cabeleiras
verte
De sombras oblíquas
E nós azuis e felinos.

Túmulos de
Pálpebras fechadas
Revelam erosões

Macias -

Sono da inconsciência.

Beijo,

Vulcão gélido
Erupção de vazio e epiderme de céu

Culpa e prazer
Estreitam dedos
Invisíveis
No pescoço do pecado.

Uma forca
Julga
Meu coração, emorecimento
De marés sem navios
De tempestades sem
Nuvens.

Pantera,
Cadência do silêncio,

Gumes negros rasgam visões de olhos,
Pulmões degelam lembranças:

Espirando, Inspirando
Espirando, inspirando...

As sombras
Se espicham
sobre o lençol,
Sudário de reinos

E sonhos de esquecimento.

Amnésia de dedos
Tateia a escuridão.

Travesseiro sem mágoas
Recebe a cabeça nua
Do esposo solitário.

Pantera, à espreita
Devora o suspense castanho
De olhos.
Insônia.

Mãos que desenrolam
Palavras sem voz.

Uma lua de carbono
Apaga
Teu lábio:

Anjo na escuridão.