O Filho
"A poesia deveria ser, apenas ser".
Ser...
Talvez eu não consiga ser.
Talvez eu tenha me tornado o poeta do "talvez...".
Não sou. Talvez seja. Não vi. Talvez veja.
A maré sobe, meus pescoço estica.
Sou uma âncora submersa em mentiras, ilusões, brincadeiras de mau gosto...
Náufrago no meu próprio discurso, você lembra? "Forte e tranqüilo
Como a montanha, os vulcões adormecidos, os mares sombrios e profundos, os deuses! Ah! Os deuses...".
Forte e indiferente. Amante da escuridão, da vida selvagem, do sangue entumescendo a terra viva...
Quanta tolice.
Eu sou o desgosto, a idiotice.
O desgosto de ti, dela, dele, daquele ali...
Eu sou o oposto.
O oposto do Pai.
O oposto da mãe.
O oposto de tudo:
Nada.
Nada mesmo.
Como o vazio ou como um bilhete vencido ou então um cartão de natal endereçado aos mortos.
Sou a icógnita,
A exclamação sem o grito.
- A silenciosa exclamação...
Sou os olhos bem abertos, abertos como o corpo de Cristo, como os braços da cruz, como os grandes arcos que o homem erigiu para si...
Talvez eu seja os braços, ou a cabeça, os dedos, pernas, os pedaços
Do que deveria ter sido.
Fracassos. Fracassos, fracassos, fracassos...
Talvez eu seja esta semente em queda livre.
O nascimento eterno, sei lá. A pedra que rola.
Esta rocha, caindo pelas bordas do teu coração.
Nunca a lágrima.
Nunca o amor!
Sou forte como um touro.
Sou rocha.
Apenas a rocha. A pesada e poderosa rocha.
A áspera, a dura, a negra e redonda, a perigosa e passiva rocha..
Enorme, balofa, sádica....
Dissolvendo toda a alegria da luz com uma falsa escuridão.
- Tola criança.
As chuvas que caem lavam o meu rastro de mim mesmo.
As chuvas que caem são erosão de mim mesmo.
Os caminhos que percorri, desconheço. Os caminhos que deixei para trás, ficaram para trás
Imóveis como a margem dos rios
Ou como os monumentos da humanidade ou como os teus olhos, suspensos pelo terror de ver que a máscara caiu - Diga xis.
E eu ando para lá e para cá... E eu ando por todo o lado,
Até minhas pernas se desmancharem e eu sentir muita dor e fadiga.
Eu ando, eu corro.
E eu não lembro de ter corrido e andado tanto.
E eu tenho andado, e corrido, e andado tanto...
Nunca parei para olhar para trás.
Nunca quis.
Você estava lá, me chamando.
Dizendo para que eu voltasse antes que o jantar ficasse frio
E a vida passasse como o beija-flor.
Mas eu nunca quis.
Com um largo riso no rosto:
Eu nunca quis.
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