Desculpe-me, mas não consegui vê-lo. É tanta meiguice, tanto carinho que me deu, que mais me parecia saturada do amor. Parecia mesmo. Um anjo. Um anjo que descia até a minha terra, tomava delicadamente meu rosto entre suas mãos e o acarinhava, e o acarinhava, e o acarinhava... Não fui capaz de ver o fundo do teu oceano. Choravas por dentro? Guardas cicatrizes como o cervo que escapou ferido das mãos do caçador? A vida não te deixou ilesa.
Mas... Agora que penso, não será tanto amor e proteção um pedido silencioso? Assim como o argumentador ferrenho, mas em dúvidas, parece argumentar contra seu próprio coração, e suas palavras parecem desejar ecoar contra suas próprias dúvidas, teu carinho parecia pedir pelo meu. Eu não te dei, Anjo? Julguei-te forte quando estavas fraco? Tua asa foi ferida pelo meu egoísmo, essa faca sem dentes, tão serena e afiada.
Tu foste forte, meu animalzinho ferido. Mais forte que a tua fragilidade, por tê-la dobrado em duas, por tê-la arrebentado tantas vezes em nome de ser forte. E foste forte quando parecia fraca, porque tiveste coração para entrar em combate contra teus medos e teus receios. Tuas lágrimas deixaram trilhas cristalinas abaixo dos teus olhos. São as marcas da coragem que eu vejo e que adoro.
Hoje acordei especialmente pensando em ti, meu animal ferido. Aliás, certa vez me disseste que era um pequeno animal ferido. Que era apenas esse animal ferido, que pedia para ser amado. Como não entendi semelhante pedido feito com olhos de criança e de mulher? Teus olhos brilhavam, mesmo por cima da capa castanha escura da íris. Tantas vezes tentou esconder através desse espelho negro as tuas dores, mas a mim a revelaste. Não compreendi.
Mas agora compreendo, agora que penso em ti, em ti mais distante, em ti como uma criança, uma criança bem lá no fundo, que delicadamente acarinha seus ferimentos. Você julga ter amadurecido rápido demais, mas eu noto algo de infantil e terno, de frágil e limpo através dessa casca.
Hoje acordei de um sonho, desejando ter teu coraçãozinho pulsando novamente em minhas mãos. Será possível que eu o tenha uma vez mais? Será que terei alguma chance de lamber tuas feridas, remover-lhe o sangue com o calor da minha língua e do meu abraço? Eu te amo... Mas talvez isso não seja o bastante.
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