Certo homem sentia-se fortemente pungido pela desolação. Isso porque há muito ele tinha percebido que os homens os quais conhecia chegavam até ele pequenos, ingênuos, ignorantes, limitados e obtusos; mas depois, conforme a amizade entre eles se estreitava, tais homens iam se tornando cada vez maiores, mais experientes, mais conhecedores, com horizontes mais amplos e capazes de raciocínios mais argutos e sofisticados. Tal homem então invejava a rápida ascensão e o grande progresso desses seus amigos, ao passo que notava que com ele o mesmo não acontecia, nenhuma grande modificação se operava em sua inteligência e em sua sabedoria. Certa noite, esse homem, enquanto buscava esquentar-se do imenso frio de seu espírito junto a uma fogueira; e[nquanto] contemplava, com melancolia, as chamas a sua frente, os olhos umidecidos pelas lágrimas, ouviu o fogo lhe falar: Por que sofres, ó grande homem? Não te apercebes que também eu nunca ganho mais calor do que sempre tive, ainda que tudo o que de mim se aproxima chega a mim mais frio e, gradativamente, vai tornando-se mais quente? Como poderia eu, que sou quente por natureza, querer tornar-me mais quente do que sou e do que sempre fui? Saiba que não há deus que não conheça o teu pesar e que todos eles te acariciam o rosto e te enxugam as lágrimas! Contenta-te, ó grande homem, em, assim como eu, ser a fonte de onde irradia aquilo que, para os que se chegam junto de nós, lhes faz falta! E, sobretudo, conserves na memória a lembrança de que sempre que teus amigos partirem abundantes do que antes careciam, foi em ti que eles se fartaram! E nessa lembrança encontrarás a plenitude e a satisfação daqueles que são aquilo que são em virtude de sua própria natureza!
Douglas Hugentobler Gimenis
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