quarta-feira, 3 de junho de 2009

Lisboa Revisitada

Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

E eu, que não sonho. E eu... que não conheço o sono
Que talvez esteja sonhando
E dormindo agora mesmo.
E eu, cuja intangencialidade do sonho
Se perde na dureza do infinito.
Esse infinito tão finito. Esse sonho tão realidade.
Ando, as mãos nos bolsos,
Metafisicamente falando: um sonâmbulo.

Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

E por isso eu sigo andando
Nada me prendendo a nada, que seja terreno ou celeste
Porque este céu, que parece céu, não é mais que a outra face do asfalto em que tropeço.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Deveria abandonar a batalha, não achas? Mas até que ponto dormir não é acordar...
Até que ponto não somos um produto do que sonhamos?
Falsidade para fora e dentro de mim. Arrogância, prepotência, submissão...
Até essa vida... seria grande demais, esférica demais.





Sobre o poema:

Foi uma tentativa de diálogo com Álvaro de Campos. Fiz agora mesmo, em alguns minutos. Talvez tenha saído ainda muito 'cuidadoso', mas eu prometo que me despojarei das palavras.

Não vou ficar citando cada estrofe como a de Álvaro: vocês, que conhecem Lisboa Revisited, não terão dificuldades em percebê-las.

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