Umar
Imagine um céu de prata fria
Seja por sonho ou por realidade... Uma prata
Que foi esquecida dentro do congelador.
E que por isso, repleta de estalactites,
Joga pela mão do inverno
Agulhas de gelo enxugado.
Imagine o céu, olhando para cima, este mesmo céu
Que não é azul ou preto
Um céu idoso, cujas mãos parecem sangrar vapores de aço líquido.
Um céu que sobe.
Eu estou para cima, ás vezes achando que a gravidade
Me joga para cima.
Você sentiria, se fechasse os olhos, este céu?
Provavelmente
Seu estômago sentiria o abalo desse novo centro gravitacional
O estalar da madeira, a bruma salgada e branca, repleta de faróis de luz quebrada
E abaixo o negro, repleto desse marulho, dessa calmaria indecisa da espuma.
Um mar de mármore
Eu estou líquido por baixo do sólido
E meu estômago segue o tambor ritual dessa senda.
Não sei porque estou aqui.
Não sei mesmo. Eu fecho os olhos, e apenas sinto, na escuridão da pálpebra
O mesmo mar de ébano, a mesma fuligem sombria do enxofre, jogando no infinito do céu
O seu toque gélido.
É inverno.
Os ventos polares trazem nuvens e neve líquida
E a mudez dos trópicos, agora caduca, deixa de ser oca
Se fecho os olhos, a madeira estala
Se não fecho, percebo que estou em trânsito
Com coisas pouco semelhantes a mim.
O mar de cobre, escondendo os tesouros da morte em seu olho vítreo,
e, com olhos fechados, o canto dos pássaros
O grasnar dos ventos
Penas que voam, não de cisnes, mas desses abutres marítimos
Atravessados pelo rugido mole da maré.
E o esôfago, estreito por uma mão
Uma mão que agarra meu pescoço...
Novamente caio para cima, e a onda prateada do céu
Baixando, ferida pelos ventos anciões.
Se olho para baixo, o sal explode ou então desliza, como um leite de água viva...
Acima, o céu gelatinoso... anêmonas que morrem e são injetadas com tempestade pura.
E se baixo os olhos, uma vez mais! Nada... apenas o estalar da madeira.
Para cima eu novamente caio...
Penso nos rios que recebem tão tumultuosas águas.
Penso em todos os rios, em todas as pequenas veias que recobrem a terra
E a abastecem.
Minha língua sente o gosto duro dessa terra
E se abrires os olhos, sentirás a terra
Em tua vértebra
Em tua espinha
Em teus movimentos ósseos, quando cais pra cima
E mergulha na piscina de silício.
Meu cérebro... atravessado pelos cânticos
Meu cérebro é uma página. Uma única página.
Não sonho. Não sonho... talvez estivesse dormindo antes de acordar
E perceber
Meu esôfago, minhas mãos, meus pés, meus cabelos
Arrepiados pelos ventos anciões
Se quebrando, no tumulto grávido de ecos
Na espuma de mármore que desmancha a confusão das coisas que disse.
E se olhares bem, verás a chuva
na tua testa
A luz na tua boca
O teu coração, aberto diante de um espelho...
Batendo compulsivamente.
Quente e sólido.
Mas a chuva... esta apaga todos os rastros do teu grito.
O grito mais humano do mar.
O grito menos humano que pensaste.
E tudo torna a desaguar dentro de mim...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário