quarta-feira, 8 de abril de 2009

Os blogs tendem a decair quando seus donos começam a postar textos prontos e trechos ou resenhas de filmes antigos. Isso é tão banal... mas mesmo assim, talvez por falta de cérebro (ou preguiça de usá-lo), vou deixar alguma coisa que talvez não seja do gosto de vocês:

Ouçamos a confissão de um Companheiro do inferno: "Ó divino Esposo, meu Senhor, não repilas a confissão da mais triste de tuas servas. Estou perdida. Estou bêbada. Estou impura. Que vida!" "Perdão, divino Senhor, perdão! Ah! perdão! Quantas lágrimas! E quantas lágrimas ainda espero!" "Mais tarde, conhecerei o divino Esposo! Nasci submissa a Ele! - O outro pode bater-me agora!" "No momento, estou no fundo do mundo, ó minhas amigas!.. não, não sois minhas amigas... Jamais delírios nem torturas semelhantes... É idiota:" "Ah! sofro, grito. Sofro de verdade. Porém tudo me é permitido, carregada de desprezo dos mais desprezíveis corações". "Enfim, façamos esta confidência, com a reserva de repeti-la vinte vezes ainda, - tão morta, tão insignificante!" "Sou escrava do Esposo infernal, aquele que perdeu as virgens loucas. É esse demônio mesmo. Não é um espectro, não é um fantasma, Mas a mim, que perdi a sabedoria, que estou condenada e morta no mundo, - não me matarão! Como vo-lo descrever! Já nem mesmo sei falar. Estou de luto, choro, tenho medo. Um pouco de ar, Senhor, se assim o desejas!" "Estou viúva...- Estava viúva...- Sim, fui muito honesta antigamente e não nasci para tornar-me esqueleto!... - Ele era quase uma criança... Seduziram-me as suas misteriosas delicadezas. Esqueci todo o meu dever humano para segui-lo. Que vida! A verdadeira vida está ausente. Não estamos no mundo. Vou aonde vai ele, é preciso. E com freqüência ele se encoleriza contra mim, contra mim, a pobre alma. O Demônio! - É um demônio, vós o sabeis, não é um homem".

"Ele diz: "Não amo as mulheres: sabemos que o amor está por ser reinventado. Já não podem desejar senão uma posição segura. Alcançada, o coração e a beleza são postos à margem: não resta senão álgido desdém, o alimento do casamento, hoje, Ou então vejo mulheres, com os sinais da felicidade, mulheres das quais eu poderia fazer boas amigas, devoradas por brutos desde o primeiro momento sensíveis como fogueiras"... "Ouço-o fazer da infâmia uma glória, da crueldade um encanto". Eu sou da raça antiga: meus pais eram escandinavos: traspassavam-se as costelas, bebiam o próprio sangue. - Ferirei todo o meu corpo, tatuar-me-ei, quero ser horrível como um mongol: verás, urrarei em plena rua. Quero ficar louco de raiva. Nunca me mostres jóias: arrastar-me-ia e me contorceria sobre a relva. Minha riqueza, quisera-a toda enodoada de sangue.

Nunca hei de trabalhar..." Certas noites, seu demônio apoderando-se de mim, nós rodávamos, eu lutava com ele! - Às noites, freqüentemente bêbado, escondia-se nas ruas ou nas casas para assustar-me mortalmente. - "Cortar-me-ão na verdade o pescoço; será asqueroso". Oh! esses dias em que ele quer caminhar com aspecto de crime!" "Algumas vezes fala, numa espécie de patoá enternecido que traz o arrependimento, dos infelizes que certamente existem, dos trabalhos penosos, das partidas que despedaçam os corações. Nas tascas em que nos embriagávamos, punha-se a chorar ao pensar nos que nos rodeiam, rebanho da miséria. Erguia os bêbados nas negras ruas. Tinha piedade de uma mãe perversa para com os filhinhos. - Portava-se com uma graça de menina, a caminho do catecismo. - Afetava tudo saber: comércio, arte, medicina. - Eu o seguia, era preciso! "Eu via toda a decoração de que, em espírito, ele se rodeava; vestidos, panos, móveis: eu lhe emprestava armas, outro rosto. Eu via tudo o que lhe interessava, como ele quisera criá-lo para si próprio. Quando me parecia que seu espírito estava inerte, eu o acompanha, por mim mesmo, em ações estranhas e complicadas, longe, boas ou más: estava perfeitamente segura de que nunca penetraria em seus mundo. Ao lado de seu corpo amado adormecido, quantas horas da noite não velei, perguntando-me porque tanto porfiava ele em evadir-se da realidade. Jamais homem algum fez tal voto. Advertia-me, - sem temer por ele - de que bem podia ser um grave perigo para a sociedade. - Acaso possuirá segredos para transformar a vida? Não, não faz mais que procurá-los, respondia a mim mesmo. Sua caridade está enfeitiçada e retém-me prisioneira. Nenhuma outra alma a não ser a minha teria bastante força - força de desespero! - para suportá-la, para ser protegida e amada por ele. Além disso, não o imaginava com outra alma: vê-se seu Anjo, nunca o Anjo de nenhum outro, creio eu. Eu habitava em sua alma como em um palácio que se desocupou para não se ver nele uma pessoa menos nobre que vós: eis tudo. Ai! eu dependia por completo dele. Mas, que queria ele de minha existência opaca e covarde? Não me tornava melhor, se não me fazia morrer! Tristemente despeitada, eu lhe disse algumas vezes: "Compreendo-te". Ele dava de ombros. "Assim, como renovasse sem cessar meu sofrimento, e sentindo-me a meus próprios olhos ainda mais perdida, - como diante de todos os olhos que quisessem contemplar-me se não estivesse condenada para sempre ao esquecimento de todos - aumentava cada vez mais minha fome de sua bondade. Seus beijos e abraços eram um céu, um sombrio céu no qual eu entrava, e no qual desejaria que me abandonasse, pobre, surda, muda, cega. Eu começava a habituar-me. Considerava que éramos duas crianças boas; livres para passear no Paraíso da tristeza. Compreendíamo-nos. Comovidos, trabalhávamos juntos. Mas, após uma penetrante carícia, ele observava: Quando eu me for, que estranho te parecerá tudo porque tens passado. Quando já não tenhas meus braços em torno de teu pescoço, mas meu coração para reclinar-te, nem esta boca sobre teus olhos. Porque um dia terei que partir para muito longe. Além disso, tenho que ajudar a outros: é meu dever. Ainda que isso não seja lá muito agradável... amada criatura". Imediatamente eu o imaginava distante, e me sentia presa de vertigem, relegada à mais espantosa das sombras: a morte. Obrigava-o prometer que não me abandonaria. Vinte vezes me fez essa promessa de amante. Era tão frívolo quanto eu, quando lhe dizia: "Compreendo-te". "Ah! Jamais tive ciúmes dele. Não me abandonarás, creio. Que faria? Não possui conhecimentos, nunca trabalhará. Quer viver sonâmbulo. Bastaria a sua bondade e caridade para dar-lhe direito no mundo real? Por um instante, esqueço o estado lastimoso em que caí: ele far-me-á forte, viajaremos, caçaremos nos desertos, dormiremos sobre o empedrado de cidades desconhecidas, sem auxílios, sem queixa. Ou ao despertar, as leis e os costumes terão mudado, - graças a seu mágico poder; ou o mundo, permanecendo igual, abandonar-me-á a meus desejos, a minhas alegrias, a minhas indolências. Oh! Dar-me-ás a vida de aventuras que existe nos livros infantis a fim de me recompensar de quanto tenho sofrido? Não posso. Ignoro meu ideal. Declara-me que sente remorsos, que tem esperanças: isto não deve importar-me. Fala com Deus? Talvez devesse eu mesma dirigir-me a Deus. Estou no mais profundo abismo, e não sei mais rezar". "Se me explicasse suas tristezas, compreende-las-ia melhor que suas zombarias? Ele me ataca, durante horas a fio me humilha por tudo que me tem comovido no mundo, e fica furioso se me ponho a chorar". “- Estás vendo este elegante jovem que entra numa bela e tranqüila residência? Chama-se Duval, Dufor, Armando, Maurício, que sei eu? Uma mulher decidiu-se a amar este perverso idiota: está morta; certo é agora uma santa, no céu. Causarás a minha morte como ele causou a dessa mulher. É nosso destino, o dos corações caridosos..," Ai! dias havia em que os homens afiguravam-se-lhe joguetes de delírios grotescos; punham-se a rir horrivelmente, por muito tempo.

- Depois recuperava seus modos de jovem mãe, de irmã mais velha. Se fosse menos selvagem, estaríamos salvos! Mas também sua doçura é mortal. Estou submetida a ele. - Ah! Estou louca!". "Um dia, talvez, desaparecerá maravilhosamente; mas preciso saber se voará para algum céu, para que eu veja, ainda que por um pouco, a assunção de meu amiguinho". Que casal risível!

Um comentário:

  1. Se lido num ritmo frenético, o excerto final onde há o escárnio com o dogma da assunção pode ser orgástico.

    Xará

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