Bandido
Que partam para longe os poetas!
Esses sim ridículos.
Os intelectuais que dêem lugar aos bandidos.
Sou um bandido, um famoso.
Como carne todos os dias
E não tenho modos pela noite.
Não conheço mulher ou homem que não me admire
E admire as minhas riquezas.
Não sei ler ou escrever.
Apenas sei que você não precisa ler ou escrever
Se o que vale é a palavra dita e escarrada.
Escarre aqui! Isso, assim.
E dê adeus à arte.
É inútil e consome tempo. Tempo em que estaria fazendo coisas melhores
Que fantasiar a própria grandeza. Fazê-la! Sim, fazê-la.
Pare de se iludir.
Hahaha
Hahahahahahaha!
Meu Deus, você é tão iludido.
E pensava que seus versos seriam reconhecidos na posteridade?
Quando morresse? E suas cartas, pomposamente adjetivadas, reconhecidas
Como tesouro?
O que vale é o sonho americano.
A bebida boa, a bebida farta.
As mulheres...
E não, isso não é uma crítica, parvo.
Não é não.
Não estou dizendo que sou assim para caricaturizar um estereótipo.
Não é uma sátira.
Pensou que que era mais um asno corroendo a credibilidade do que você nega?
Negue isto: você será esquecido.
Já negou? Já foi.
Ultraromântico.
Orgulho-me de não falar sobre os sentimentos.
Não gosto quando os poetas se gabam de escrever poemas sobre sentimentos.
Existem coisas mais nobres e belas porque não estão em movimento
E nem comovem e nem esperam a aprovação dos que se comovem
Porque elas guardam em si um sentido menos profundo e mais humano que os sentimentos.
Orgulho-me de não ser aventureiro.
De não ser romântico e não conhecer as flores.
De pisar sobre o tesouro da nossa dita poesia e de ser insensível a ela.
Eu não sei falar sobre os sentimentos e nem sei ler poesia. Tudo o que compreendo são grunhidos e as necessidades básicas do ser humano.
Gosto dos números.
Eles não mentem. Eles não escolhem. São fixos de forma que o dois sempre será o dois
E em sua abstração, em sua imaterialidade, são imutáveis
Eternos.
Não gosto da morte e nem das coisas valorizadas. Gosto do desvalor, da riqueza ociosa, da ignorância, do Brasil imerso no preconceito.
Gosto desses noticiários alienantes, dos aquários e da previsibilidade.
Talvez nunca seja o rebelde, talvez sempre o submisso, o camarada, o fácil.
Talvez nunca saiba falar sobre os sentimentos e talvez nunca me gabe de escrever poesia.
Eu não amo ninguém.
A Flor
No asfalto úmido pelas luzes da cidade
Encontrei uma semente
Esfera estranha e mal cheirosa.
Já esqueci como se escreve sobre isso.
A flor... o que sei sobre ela?
Tenho uma semente, regada pela urina dos cães da cidade...
E um poema? Não sei falar ou escrever.
Talvez acabe me esquecendo de tudo isso
E a jogue para o alto.
Mas vamos... vamos tentar:
A flor cresce ignorada no meio da cidade
E ... e a beleza advém da contradição.
Uma flor, belíssima e efêmera - o poeta!
O poeta? Suas pétalas deslizando na escuridão.
O carbono injetando em sua corola o azul venenoso do céu.
Ah! Ah! Sofro...
Sofro de tocar nessa flor invisível e nascida do silêncio.
O escarro dos motores... o escarro, o vil escarro..
Ai, meus dedos... não toco, não sinto, não cheiro.
É uma semente... e não há o que dizer sobre ela.
Ela cresce, seus espinhos... - e a Musa, afundando sua cabeça no oceano côr de papoulas
Isso! Seus espinhos furtivamente roubam o sangue
O sangue de quem os toca.
Furtivamente a rosa
Que é bela, mata.
?-mina
I
Se eu lhe der o que você quer
Você me dá
Quero? O que eu
Eu não sei o que quero. E se você me dar
Não Sei. Tudo o que sei
É que estou só.
Na minha cabeça Zilhões de moscas
Zilham. Zilhões e zilhões.
E uma teia binária de zeros me zeram.
Zilhões de zeros é zero.
E sempre será.
Então, se sou zero. E tenho zilhões de zeros para lhe dar.
Em troca. Não me dará. Nada. E será justo.
Que eu torne ao nada e ao zero.
II
Sobre a mesa cirúrgica está a Musa.
E eu já vasculhei seus intestinos todos
Fétidas, suas vísceras verdes
Comeram todo o ninho de víboras que crescia em seus pulmões.
Por isso o hálito: ácido e seco.
E os olhos, duas órbitas
Planas como aquele mapa antigo e amarelado debaixo da mesa.
O austro descolore o seio esquerdo
E uma cicatriz, em forma de X,
Delimita em um raio inferior à três centímetros
O tesouro cancerígeno dos seus rins.
Um Céu Amargo
Grávido de arranha-céus
Arranhando azul a garganta
E de torres, espelhos gotejantes de magma,
Destruídos na borda áurea do sol
Mancha, esse céu venal e abrupto,
Os olhos de uma criança que o imita em pleno vôo
A cair para o céu, duro e cinza de granizo
Como uma ave no porto, diante de um mar revolvido pelo grito
Abro os braços para o céu, ele imita, as nuvens:
Pássaros negros carregados de chuva.
Sangram nos buquês e nas marquises de mármore
À forma azul e magra das árvores.
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Um ode à energia cativante, auto-honestidade e sensibilidade dos criminosos. Sim, sensibilidade. O poeta não é um sensível; ele não é capaz de captar o que existe e expressá-lo. O poeta é um mentiroso; um maldito em perene suplício! O pão nosso de cada dia, abutres prosaicos.
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