quinta-feira, 30 de abril de 2009

últimos poemas escritos

Bandido

Que partam para longe os poetas!
Esses sim ridículos.
Os intelectuais que dêem lugar aos bandidos.
Sou um bandido, um famoso.
Como carne todos os dias
E não tenho modos pela noite.
Não conheço mulher ou homem que não me admire
E admire as minhas riquezas.
Não sei ler ou escrever.
Apenas sei que você não precisa ler ou escrever
Se o que vale é a palavra dita e escarrada.
Escarre aqui! Isso, assim.
E dê adeus à arte.
É inútil e consome tempo. Tempo em que estaria fazendo coisas melhores
Que fantasiar a própria grandeza. Fazê-la! Sim, fazê-la.
Pare de se iludir.
Hahaha
Hahahahahahaha!
Meu Deus, você é tão iludido.
E pensava que seus versos seriam reconhecidos na posteridade?
Quando morresse? E suas cartas, pomposamente adjetivadas, reconhecidas
Como tesouro?
O que vale é o sonho americano.
A bebida boa, a bebida farta.
As mulheres...
E não, isso não é uma crítica, parvo.
Não é não.
Não estou dizendo que sou assim para caricaturizar um estereótipo.
Não é uma sátira.
Pensou que que era mais um asno corroendo a credibilidade do que você nega?
Negue isto: você será esquecido.
Já negou? Já foi.

Ultraromântico.

Orgulho-me de não falar sobre os sentimentos.
Não gosto quando os poetas se gabam de escrever poemas sobre sentimentos.
Existem coisas mais nobres e belas porque não estão em movimento
E nem comovem e nem esperam a aprovação dos que se comovem
Porque elas guardam em si um sentido menos profundo e mais humano que os sentimentos.
Orgulho-me de não ser aventureiro.
De não ser romântico e não conhecer as flores.
De pisar sobre o tesouro da nossa dita poesia e de ser insensível a ela.
Eu não sei falar sobre os sentimentos e nem sei ler poesia. Tudo o que compreendo são grunhidos e as necessidades básicas do ser humano.
Gosto dos números.
Eles não mentem. Eles não escolhem. São fixos de forma que o dois sempre será o dois
E em sua abstração, em sua imaterialidade, são imutáveis
Eternos.
Não gosto da morte e nem das coisas valorizadas. Gosto do desvalor, da riqueza ociosa, da ignorância, do Brasil imerso no preconceito.
Gosto desses noticiários alienantes, dos aquários e da previsibilidade.
Talvez nunca seja o rebelde, talvez sempre o submisso, o camarada, o fácil.
Talvez nunca saiba falar sobre os sentimentos e talvez nunca me gabe de escrever poesia.
Eu não amo ninguém.




A Flor

No asfalto úmido pelas luzes da cidade
Encontrei uma semente
Esfera estranha e mal cheirosa.
Já esqueci como se escreve sobre isso.
A flor... o que sei sobre ela?
Tenho uma semente, regada pela urina dos cães da cidade...
E um poema? Não sei falar ou escrever.
Talvez acabe me esquecendo de tudo isso
E a jogue para o alto.
Mas vamos... vamos tentar:
A flor cresce ignorada no meio da cidade
E ... e a beleza advém da contradição.
Uma flor, belíssima e efêmera - o poeta!
O poeta? Suas pétalas deslizando na escuridão.
O carbono injetando em sua corola o azul venenoso do céu.
Ah! Ah! Sofro...
Sofro de tocar nessa flor invisível e nascida do silêncio.
O escarro dos motores... o escarro, o vil escarro..
Ai, meus dedos... não toco, não sinto, não cheiro.
É uma semente... e não há o que dizer sobre ela.
Ela cresce, seus espinhos... - e a Musa, afundando sua cabeça no oceano côr de papoulas
Isso! Seus espinhos furtivamente roubam o sangue
O sangue de quem os toca.
Furtivamente a rosa
Que é bela, mata.

?-mina

I

Se eu lhe der o que você quer
Você me dá
Quero? O que eu
Eu não sei o que quero. E se você me dar
Não Sei. Tudo o que sei
É que estou só.
Na minha cabeça Zilhões de moscas
Zilham. Zilhões e zilhões.
E uma teia binária de zeros me zeram.
Zilhões de zeros é zero.
E sempre será.
Então, se sou zero. E tenho zilhões de zeros para lhe dar.
Em troca. Não me dará. Nada. E será justo.
Que eu torne ao nada e ao zero.



II

Sobre a mesa cirúrgica está a Musa.
E eu já vasculhei seus intestinos todos
Fétidas, suas vísceras verdes
Comeram todo o ninho de víboras que crescia em seus pulmões.
Por isso o hálito: ácido e seco.
E os olhos, duas órbitas
Planas como aquele mapa antigo e amarelado debaixo da mesa.
O austro descolore o seio esquerdo
E uma cicatriz, em forma de X,
Delimita em um raio inferior à três centímetros
O tesouro cancerígeno dos seus rins.


Um Céu Amargo

Grávido de arranha-céus
Arranhando azul a garganta
E de torres, espelhos gotejantes de magma,
Destruídos na borda áurea do sol
Mancha, esse céu venal e abrupto,
Os olhos de uma criança que o imita em pleno vôo
A cair para o céu, duro e cinza de granizo
Como uma ave no porto, diante de um mar revolvido pelo grito
Abro os braços para o céu, ele imita, as nuvens:
Pássaros negros carregados de chuva.
Sangram nos buquês e nas marquises de mármore
À forma azul e magra das árvores.

Um comentário:

  1. Um ode à energia cativante, auto-honestidade e sensibilidade dos criminosos. Sim, sensibilidade. O poeta não é um sensível; ele não é capaz de captar o que existe e expressá-lo. O poeta é um mentiroso; um maldito em perene suplício! O pão nosso de cada dia, abutres prosaicos.

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