quarta-feira, 18 de março de 2009

Intermezzo

É um puta parênteses, eu sei. Tava narrando sobre minha 'infância' literária, e de-repente posto um texto totalmente desvinculado. É algo que escrevi no impulso, sem me preocupar com linguagem alguma ou sem me preocupar em não ter linguagem (aliás, agora que percebi uma coisa importantíssima sobre linguagem e emoção, mas falo sobre isso num eventual post). Escrevi como um cronista desesperado, ou como um louco e suas epístolas de hospício. Leiam e digam-me se o odeiam o suficiente:

Quero ser um homem extremamente feio.

Do qual as pessoas não odeiem senão por não ser odiável e nem amável.

Quero ser médio, sem qualidades e nem defeitos. Meu único defeito é não ter grandes defeitos.

Quero ter uma fisionomia comum, não rir, nem ser debochado. Quero ser ignorante da tristeza, quero ter menos experiências e nem por isso viver no mundo da lua.

Minha alma não será complexa, será simples e legível. Todos poderão me analisar, mas nunca encontrar outra patologia que não a ausência de conflitos.

Aceitarei tudo. Nunca lutarei. Não serei romântico e nem idealista. Serei inimigo dos sonhos, da poesia, das artes. A tudo olharei ruminando como um búfalo, a boca gorda de pasto.

Engordarei ocioso, mas meu ócio nunca será louvável e nem exótico.

Não produzirei memórias sobre a terra, apenas histórias simples e comuns

Sem orgulho, apenas histórias de extensos e monótonos dias de trabalho

Onde um homem absolutamente normal e sem grandes antecedentes fez algo medíocre e dentro do esperado.

Não quero ser crítico nem quero aceitar incondicionalmente. Sou apenas um musgo, vegetal e repleto de oxigênio, beirando o cataclisma de todas as coisas, ignorante da existência das coisas.

Sou apenas um bicho, um animal sem pretensões. Que nem ao menos tenta ser despretensioso. Quero ser extremamente previsível e baixo. Banal. Extremamente banal.

Não sou natural e nem afetado, mas justamente o ridículo que vêm do equilíbrio de todas as coisas bestas.

Um equilíbrio falso e covarde, de uma arcada feia de dentes, de um coração pequeno e sem raízes fixadas que não em velhas promessas, derrotas e verdades. Cheio de raízes em um cristianismo desapegado, apagado e nu. Sem mistérios, sem segredos como se a vida fosse um papel à solta no vento da metrópole.

Eu quero ser odiado e amado, de forma que essas duas coisas se anulem e ninguém possa dizer mais nada.

Quero ser um silêncio, daquele que não devia estar e nem ser. Que ninguém sinta falta ou se dê pela presença.

Sutil e desengraçado. Não tenho bom humor e tudo o que faço é comer e dormir.

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