Nunca compreenderei porque me atraio tanto pelo universo do sonho. Brincar de ser absurdo sempre foi algo semelhante a uma libertação. De quê? Do exercício sofrido de ser compreendido? ;) Acho que a matéria prima da poesia descansa nesse tipo de poço lodoso: a água das nossas emoções deixou que uma flor, ainda que seu perfume leve os homens à loucura, brotasse ali para ser colhida e cultivada. O próprio Rimbaud bebeu da seiva que alimentou esse vegetal, e o poder de sua alucinação o fez enfrentar o verdadeiro inferno em vida; Lautreamont, que ainda não li, recende a esse aroma. Acho que estou definitivamente na rota desses grandes assassinos da compreensão. Uma pena! (EU FUI IRÔNICO! :@)
Mas é claro que apenas um pouco de "desreglée" não seria o suficiente para Rimbaud arder em chamas (mas vocês arderão de raiva se eu me limitar a mastigar tudo o que sei e o que não sei).
"Na urna pesada em que deitava a cabeça
-E como a sentia sólida! - ouvi o barulho incoercível
Do mar. Então, pensando que fosse concha,
Levei ao ouvido a sua membrana ebânea e doce
E me deixei embalar pelos ruídos marítimos que dele imergiam.
Meu estômago doía, após ter mastigado as promessas
borrachudas que cismavam escapar entre meus dentes.
Tentando calá-las, batia com as mãos sobre a caixa
E meus pés, cada vez mais gelados, enterravam-se -
...medo que a caixa se rompesse e me tragasse para o céu líquido de mariposas! -
Onde eu não mais sabia onde e certamente havia qualquer coisa de denso e úmido.
- Um útero, encoberto de óvulos não fecundados como ovos de passarinho, e a caixa.
- Talvez ainda mais a tua foto, que repentinamente surgia,
Uma fotografia monocromática, de ti sorrindo e chorando,
lágrimas que lembravam a agonia de teleféricos
Vazios."
Ou ainda:
"Descascando tua alergia coronal, encontro uma pérola
Ela, multi-flor, ri histriônica quando a ponho a boca.
Tuas nádegas, perfeitas luas, remodelam qualquer coisa de purgatória.
Meus dedos, passeando e passeando, vagarosamente pelo teu seio
Desnudo e ereto por complicadas estruturas de argila...
Ah! Sinto o doce perfume da chuva, branca e de pérolas,
Entumescendo de orvalho negro as tuas pesadas pestanas!
E, carnívoro como a pétala daquela beladona com a qual nos embriagamos,
o devoro, até a medula mole e quente dos teus sonhos."
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