O otimismo é mesmo um sinal de decadência, ou tudo isso é um sinal de que estou me transformando em um velho. Costumo ter aulas na faculdade de educação, e sentir nojo do perfil de aluno que anda por lá: esquerdistas, pseudo-reacionários, anti-petistas (alguns), marxistas, humanitários, descolados, burgueses. Eles são otimistas, sim: gostam de “levantar a moral”, dizer que tu vai ficar bem, que a “voz do povo é a voz de Deus”, mas cá entre nós: Deus nunca teve um hálito tão fedorento de cigarro!
Eu volto a insistir que o otimismo é um sinal de decadência, mas talvez esse meu pensamento seja bastante negativo e mau, e esteja eu lentamente caindo para o fundo do poço. Que espécie de fundo do poço é esse: moral ou físico (ou financeiro)? Não sei. Talvez a minha vontade esteja me abandonando? Talvez eu esteja saturado dela? Sou forte ou sou fraco? Estando tão propenso a me sentir pessimista, vou aplicar esse pessimismo contra os próprios conceitos de pessimismo e otimismo. Concordem ou não.
Costuma-se pensar que o pessimismo é um atributo de gente fraca (atributo porque atribui a ela certa incapacidade de escolher por achar que “tudo dará errado”). Em contrapartida diz-se que o otimismo é um sinal de pessoa forte, porque independente da situação, ela sempre será confiante e determinada de que tudo dará certo. Podemos, aqui, concluir então que o pessimismo é uma espécie de incredulidade de si mesmo e das coisas (de que elas podem dar ‘certo’, uma espécie, não de insegurança, mas de desistência das coisas por desacreditar em seu sucesso), enquanto que o otimismo é uma quase-certeza de que todas as coisas, estejam elas ruins ou boas, podem dar certo dado a simples existência de uma margem de acerto (seja ela menor que um grão de areia).
Do Wikipédia temos as seguintes definições de um e outro:
No senso comum, pessimismo é “um estado de espírito contrário ao otimismo, que se caracteriza por se ver as coisas sempre pelo lado ruim. Segundo o dicionário Aurélio, em sua versão eletrônica, pessimismo é a "disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar tudo pelo lado negativo, a esperar de tudo o pior".
Na filosofia, pessimismo é “caráter das doutrinas metafísicas ou morais que afirmam a supremacia do mal sobre o bem e costumam levar à adoção de uma atitude geral de escapismo, imobilismo ou conformismo, quer seja o mal considerado a privação dos meios de conservação da vida (alimentação, abrigo, etc.), quer seja considerado a privação dos meios de expansão e desenvolvimento espiritual."
Não são definições estranhas a nós. Quanto ao otimismo:
Otimismo é a disposição para encarar as coisas pelo seu lado positivo e esperar sempre por um desfecho favorável, mesmo em situações muito difíceis.
Na filosofia, o otimismo (pensado por Leibniz) é uma conciliação de um máximo de bem com um mínimo de mal num mundo criado por Deus (e assim possível porque foi criado por Deus). Mais tarde o otimismo refere-se a um estágio em que a sociedade humana regeria a matéria e suas leis apenas através da razão, substituindo mesmo a força e a violência.
Há ainda estudos que dizem que o otimismo está vinculado ao sistema imunológico, à auto-estima, e a uma série de coisas até bastante fisiológicas.
Mas eu não deveria ter parado por aqui, retido para mim essa idéia insana? Como poderia o otimismo ser um sinal de decadência se ele é característico de pessoas mais fortes, resistentes, amantes de si?
Antes de levar essa idéia para frente, não tenho vergonha de admitir que seu pensador original é Nietzsche, filósofo do século XIX e que nada tenho de autoria sobre essa condenação do otimismo, senão pela própria condenação também do pessimismo. Qual meu objetivo? Bater-me contra Pessimismo e Otimismo e depois nada? Apenas satisfazer uma vaidade, uma fantasia de lutar contra a sombra dos grandes? Quero expressar alguns pensamentos a respeito das idéias de Nietzsche e do que vejo no meu dia-a-dia.
Voltando...
Agora que temos firmado alguma conclusão de um e outro (o que é pessimismo e otimismo), podemos jogar com essas definições e refletir em cima delas.
Normalmente vejo, na Faculdade de Educação, aquelas pessoas gritando frases de efeito, falando em anarquismo, marxismo, alto-astral, vida, perigo, aventura, “lutar contra a alienação”, e simplesmente não entendo que espécie de atitude é essa, misto de otimismo e romantismo, de idealismo e de fantasia, tudo muito jovem e ingênuo. Acho a mais patética ingenuidade essa atitude da juventude de hoje, que faz com que eles levantem cartazes dizendo que “os anarquistas saúdam os bixos”, que “os marxistas defendem os direitos do homem”. Não gosto quando batem nos tambores e fazem festas na frente de um grupo de prédios que deveriam ser um santuário para se adquirir conhecimento. Odeio quando batem nas portas e seguem correndo, como um bando de crianças hiperativas que se largaram da babá da creche. Tenho vergonha de todos, que parecem tão infantis em coisas em que me sinto tão idoso. Eles são otimistas nessa atitude, e sabem por quê? Por que ignoram a verdadeira extensão dos problemas do mundo.
Otimismo é bem isso: um totem de falsa força e falsa vitalidade. “Mesmo em situações difíceis, onde não há chances, eles acreditam que dará certo”. Para mim otimismo é escapismo. Acho engraçado que as pessoas mais otimistas são as que mais voluntariosamente se alienam, para sustentar suas crenças de que elas possuem controle sobre seus próprios destinos. Cruzam os dedos, pensam positivo, mas sempre sinto um cheiro de medo no ar. Elas tremem embaixo dessa capa de falsa determinação. Elas falam em força, quando em seus corações só há fraqueza: uma fraqueza semi-consciente, de quem dorme para sonhar com um amanhã menos deprimente. Um otimismo não-lúcido, um sonambulismo da força. O otimismo não é uma infantilidade, mas uma pré-adolescência: eles renegam a responsabilidade de ver, vocês me entendem, e suportam, também conformados, a íntima idéia de que não possuem nada senão aquela falsa crença de que as coisas podem dar certo.
Otimismo é uma carência de ânimo. Otimismo surge da necessidade de se acreditar em alguma coisa boa e iminente. Na necessidade de acreditar, porque é difícil suportar o sofrimento análogo a vida. Viver é sofrer. É sofrer desapontamentos, sempre. É sofrer injúrias, machucados, muitas vezes sem anestesia. Otimismo é anestesia. Otimismo é um drama Cult de grandeza. A quem os otimistas querem convencer? A si mesmos? Engraçado que todos têm um timbre de voz alto e sonoroso, falam para fora, com determinação, e penso que é necessária toda a boa retórica para que seus próprios corações sejam persuadidos.
Por outro lado simplesmente não posso aceitar o pessimismo. O pessimismo também é insuficiente e doentio, porque ele se conforma, ele não luta, ele é passivo, ele é infantil como uma criança que relega aos pais a tarefa de resolver-lhe todas as coisas que afligem. Pessimismo é, muito antes de ser um verdadeiro sentimento de derrota e imobilidade, um sentimento de fuga: vejo os pessimistas como aqueles que apenas querem fugir da responsabilidade. Atestam que viver é sofrer, não sem razão, mas nada sabem ou nada desejam saber dos propósitos desse sofrimento. Apenas justificam. Justificam, com suas feridas, uma má vontade sobre as coisas, sobre tudo. Dizem que sofreram muito, e para eles, na verdade, o maior sofrimento é lutar e não serem machucados. Ferem-se, muitas vezes, e ferem aos outros porque querem mostrar que a vida não vale a pena. Enquanto os otimistas gritam “vida” na ânsia desesperadora de fugir da morte, os pessimistas aceitam a morte não como homens, mas como crianças que apenas optam pelo caminho mais fácil.
Estou cansado de pessimistas e otimistas. Não sei quanto a vocês, mas quero um novo pessimismo, um novo otimismo. Quero um novo tipo de homem, um novo patamar, uma nova atitude.
E como pensaria nessa nova atitude, nesse novo conceito e patamar? Penso em alguém que compreenda a verdadeira natureza das coisas, que seja lúcido, acima de tudo lúcido de que a vida está direcionada para a morte, de que o sofrimento muitas vezes não tem compensação, de que as coisas nem sempre terão um lado positivo. Lúcido e altivo, arrogantemente estufa o peito e olha bem nos olhos das coisas e percebe que talvez nada tenha salvação. Que talvez suas forças não sejam suficientes, que nada seja o suficiente. E luta. Luta como um otimista faria, mas com força redobrada e coragem triplicada. Luta, não porque quer necessariamente ter algo ou vencer alguém, mas principalmente porque quer vencer um obstáculo que é a sua própria limitação, que é ele mesmo. Luta porque todas as coisas no mundo lhe parecem familiares, lhe parecem parte de si. Sua auto-estima não enaltece apenas suas qualidades, mas também seus defeitos, principalmente seus defeitos. Vê em seus defeitos algumas peculiaridades e possibilidades de bater-se consigo, sempre e sempre. É uma atitude de quem vive em conflito, não com o mundo, mas consigo. É outra atitude pessimista, porque está saturado de força e vitalidade e deseja algo maior que ele mesmo, algo que ele não possa alcançar pela força humana, pelos recursos, pela mortalidade: ele quer algo que esteja acima, ele quer sofrer, porque entende, mesmo que no íntimo, que apenas pelo sofrimento se glorifica a vida.
Eu volto a insistir que o otimismo é um sinal de decadência, mas talvez esse meu pensamento seja bastante negativo e mau, e esteja eu lentamente caindo para o fundo do poço. Que espécie de fundo do poço é esse: moral ou físico (ou financeiro)? Não sei. Talvez a minha vontade esteja me abandonando? Talvez eu esteja saturado dela? Sou forte ou sou fraco? Estando tão propenso a me sentir pessimista, vou aplicar esse pessimismo contra os próprios conceitos de pessimismo e otimismo. Concordem ou não.
Costuma-se pensar que o pessimismo é um atributo de gente fraca (atributo porque atribui a ela certa incapacidade de escolher por achar que “tudo dará errado”). Em contrapartida diz-se que o otimismo é um sinal de pessoa forte, porque independente da situação, ela sempre será confiante e determinada de que tudo dará certo. Podemos, aqui, concluir então que o pessimismo é uma espécie de incredulidade de si mesmo e das coisas (de que elas podem dar ‘certo’, uma espécie, não de insegurança, mas de desistência das coisas por desacreditar em seu sucesso), enquanto que o otimismo é uma quase-certeza de que todas as coisas, estejam elas ruins ou boas, podem dar certo dado a simples existência de uma margem de acerto (seja ela menor que um grão de areia).
Do Wikipédia temos as seguintes definições de um e outro:
No senso comum, pessimismo é “um estado de espírito contrário ao otimismo, que se caracteriza por se ver as coisas sempre pelo lado ruim. Segundo o dicionário Aurélio, em sua versão eletrônica, pessimismo é a "disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar tudo pelo lado negativo, a esperar de tudo o pior".
Na filosofia, pessimismo é “caráter das doutrinas metafísicas ou morais que afirmam a supremacia do mal sobre o bem e costumam levar à adoção de uma atitude geral de escapismo, imobilismo ou conformismo, quer seja o mal considerado a privação dos meios de conservação da vida (alimentação, abrigo, etc.), quer seja considerado a privação dos meios de expansão e desenvolvimento espiritual."
Não são definições estranhas a nós. Quanto ao otimismo:
Otimismo é a disposição para encarar as coisas pelo seu lado positivo e esperar sempre por um desfecho favorável, mesmo em situações muito difíceis.
Na filosofia, o otimismo (pensado por Leibniz) é uma conciliação de um máximo de bem com um mínimo de mal num mundo criado por Deus (e assim possível porque foi criado por Deus). Mais tarde o otimismo refere-se a um estágio em que a sociedade humana regeria a matéria e suas leis apenas através da razão, substituindo mesmo a força e a violência.
Há ainda estudos que dizem que o otimismo está vinculado ao sistema imunológico, à auto-estima, e a uma série de coisas até bastante fisiológicas.
Mas eu não deveria ter parado por aqui, retido para mim essa idéia insana? Como poderia o otimismo ser um sinal de decadência se ele é característico de pessoas mais fortes, resistentes, amantes de si?
Antes de levar essa idéia para frente, não tenho vergonha de admitir que seu pensador original é Nietzsche, filósofo do século XIX e que nada tenho de autoria sobre essa condenação do otimismo, senão pela própria condenação também do pessimismo. Qual meu objetivo? Bater-me contra Pessimismo e Otimismo e depois nada? Apenas satisfazer uma vaidade, uma fantasia de lutar contra a sombra dos grandes? Quero expressar alguns pensamentos a respeito das idéias de Nietzsche e do que vejo no meu dia-a-dia.
Voltando...
Agora que temos firmado alguma conclusão de um e outro (o que é pessimismo e otimismo), podemos jogar com essas definições e refletir em cima delas.
Normalmente vejo, na Faculdade de Educação, aquelas pessoas gritando frases de efeito, falando em anarquismo, marxismo, alto-astral, vida, perigo, aventura, “lutar contra a alienação”, e simplesmente não entendo que espécie de atitude é essa, misto de otimismo e romantismo, de idealismo e de fantasia, tudo muito jovem e ingênuo. Acho a mais patética ingenuidade essa atitude da juventude de hoje, que faz com que eles levantem cartazes dizendo que “os anarquistas saúdam os bixos”, que “os marxistas defendem os direitos do homem”. Não gosto quando batem nos tambores e fazem festas na frente de um grupo de prédios que deveriam ser um santuário para se adquirir conhecimento. Odeio quando batem nas portas e seguem correndo, como um bando de crianças hiperativas que se largaram da babá da creche. Tenho vergonha de todos, que parecem tão infantis em coisas em que me sinto tão idoso. Eles são otimistas nessa atitude, e sabem por quê? Por que ignoram a verdadeira extensão dos problemas do mundo.
Otimismo é bem isso: um totem de falsa força e falsa vitalidade. “Mesmo em situações difíceis, onde não há chances, eles acreditam que dará certo”. Para mim otimismo é escapismo. Acho engraçado que as pessoas mais otimistas são as que mais voluntariosamente se alienam, para sustentar suas crenças de que elas possuem controle sobre seus próprios destinos. Cruzam os dedos, pensam positivo, mas sempre sinto um cheiro de medo no ar. Elas tremem embaixo dessa capa de falsa determinação. Elas falam em força, quando em seus corações só há fraqueza: uma fraqueza semi-consciente, de quem dorme para sonhar com um amanhã menos deprimente. Um otimismo não-lúcido, um sonambulismo da força. O otimismo não é uma infantilidade, mas uma pré-adolescência: eles renegam a responsabilidade de ver, vocês me entendem, e suportam, também conformados, a íntima idéia de que não possuem nada senão aquela falsa crença de que as coisas podem dar certo.
Otimismo é uma carência de ânimo. Otimismo surge da necessidade de se acreditar em alguma coisa boa e iminente. Na necessidade de acreditar, porque é difícil suportar o sofrimento análogo a vida. Viver é sofrer. É sofrer desapontamentos, sempre. É sofrer injúrias, machucados, muitas vezes sem anestesia. Otimismo é anestesia. Otimismo é um drama Cult de grandeza. A quem os otimistas querem convencer? A si mesmos? Engraçado que todos têm um timbre de voz alto e sonoroso, falam para fora, com determinação, e penso que é necessária toda a boa retórica para que seus próprios corações sejam persuadidos.
Por outro lado simplesmente não posso aceitar o pessimismo. O pessimismo também é insuficiente e doentio, porque ele se conforma, ele não luta, ele é passivo, ele é infantil como uma criança que relega aos pais a tarefa de resolver-lhe todas as coisas que afligem. Pessimismo é, muito antes de ser um verdadeiro sentimento de derrota e imobilidade, um sentimento de fuga: vejo os pessimistas como aqueles que apenas querem fugir da responsabilidade. Atestam que viver é sofrer, não sem razão, mas nada sabem ou nada desejam saber dos propósitos desse sofrimento. Apenas justificam. Justificam, com suas feridas, uma má vontade sobre as coisas, sobre tudo. Dizem que sofreram muito, e para eles, na verdade, o maior sofrimento é lutar e não serem machucados. Ferem-se, muitas vezes, e ferem aos outros porque querem mostrar que a vida não vale a pena. Enquanto os otimistas gritam “vida” na ânsia desesperadora de fugir da morte, os pessimistas aceitam a morte não como homens, mas como crianças que apenas optam pelo caminho mais fácil.
Estou cansado de pessimistas e otimistas. Não sei quanto a vocês, mas quero um novo pessimismo, um novo otimismo. Quero um novo tipo de homem, um novo patamar, uma nova atitude.
E como pensaria nessa nova atitude, nesse novo conceito e patamar? Penso em alguém que compreenda a verdadeira natureza das coisas, que seja lúcido, acima de tudo lúcido de que a vida está direcionada para a morte, de que o sofrimento muitas vezes não tem compensação, de que as coisas nem sempre terão um lado positivo. Lúcido e altivo, arrogantemente estufa o peito e olha bem nos olhos das coisas e percebe que talvez nada tenha salvação. Que talvez suas forças não sejam suficientes, que nada seja o suficiente. E luta. Luta como um otimista faria, mas com força redobrada e coragem triplicada. Luta, não porque quer necessariamente ter algo ou vencer alguém, mas principalmente porque quer vencer um obstáculo que é a sua própria limitação, que é ele mesmo. Luta porque todas as coisas no mundo lhe parecem familiares, lhe parecem parte de si. Sua auto-estima não enaltece apenas suas qualidades, mas também seus defeitos, principalmente seus defeitos. Vê em seus defeitos algumas peculiaridades e possibilidades de bater-se consigo, sempre e sempre. É uma atitude de quem vive em conflito, não com o mundo, mas consigo. É outra atitude pessimista, porque está saturado de força e vitalidade e deseja algo maior que ele mesmo, algo que ele não possa alcançar pela força humana, pelos recursos, pela mortalidade: ele quer algo que esteja acima, ele quer sofrer, porque entende, mesmo que no íntimo, que apenas pelo sofrimento se glorifica a vida.
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