quarta-feira, 25 de março de 2009

Da Academia

Vocês podem até não concordar comigo, podem me chamar de invejoso, de qualquer coisa que quiserem, mas mesmo assim digo o que me vem na cabeça. E ponto.

Já estou me cansando da Academia. É um lugar grande, onde se troca conhecimento, se faz amigos, se desenvolve o saber? Talvez 40% disso seja verdade, mas pelos os outros 60% do verdadeiro espírito da Academia eu a chamaria de modo diferente: coliseu.

Para começar, a Academia é um lugar preparatório para a guerra. Os filhotes vem de seus recantos paradisíacos burgueses, e lá são batizados com todo o tipo de meleca e tinta (alguns precisam passar ridículo). É um ritual importante de socialização, e quem não o fizer é um excomungado, um exilado das relações humanas. Nesse ritual os filhotes se sentem ainda mais filhotes, e assumindo esse caráter de filhote e brinquedo, divertem-se sendo a diversão dos temidos 'veteranos'.

O primeiro semestre é assim: comentamos baixinho que os filhotes, os bixos, são pretensioso, arrogantes, crianções, que gostam de levantar o dedo mas sempre pra falar besteira, que são aplicados mas "nada entendem da verdadeira essência dos saberes", e essas fanfarronices de nós, veteranos.

No segundo semestre o filhote já não é mais filhote, mas ainda não tem filhotes para atormentar. Dessa forma passam seu tempo, ainda um tanto inseguros como no primeiro semestre, reclusos e procurando alguma forma de adquirir mais saberes e passar nas cadeiras.

No terceiro semestre repete-se o ciclo, e assim por diante, até o infinito. Os veteranos serão sempre os veteranos, mais sábios, superiores; os filhotes deixaram de ser filhotes, eventualmente, e essa hierarquia tende apenas a crescer com o nascimento de alguns muitos partidos que se autoelegem dentro da faculdade, como os sociais-democratas, os hippies e os Anarquistas (os quais inclusive fizeram a gentileza de saudar os bixos nos primeiros dias de aula).

A UFRGS tem o vício enojante de falar coisas 'esquerdistas'. Qual o quê! Que bobagem! Onde já se viu um partido anarquistas se auto-elegendo no meio dessa barulhada? É muito ridículo, principalmente porque pra eles anarquismo significa festa e baderna. Ou os sociais-democratas, que apesar de vomitarem muitos bordões psicopedagógicos e humanitários (e promoverem muitas caminhadas ao ar livre para protestar), quase nada fazem em relação aos problemas internos da faculdade em que eles próprios estudam. Os hippies só querem sentar na grama e relaxar.

A Academia não é grande coisa, não. É uma bolha, como disse o meu primo. E ele tem toda a razão. Você se afasta não sei quantas dezenas de quilômetros do centro da cidade, onde só há mato e ferro-velho, passa por uns morros e está no Campus do Vale: um retiro para ermitões. Aqueles ares, tão estranhos ao ambiente urbano, te fazem esquecer que há uma vida acontecendo, ás vezes sobre quatro rodas, mas tudo o que consegue ver na tua frente são alguns salgueiros e uns textos sobre a teoria literária da escola de Frankfurt.

Você chega lá e simplesmente exercita um conhecimento tão teórico, mas tão teórico, que professor algum ensinaria a alunos do ensino médio. O pior não é o conhecimento teórico em si, mas o valor que se lhe atribuí. As aulas são coliseus de verdade, no sentido de que sempre tem alguém pra te contra-argumentar. O problema não é o ato, mas a intenção: eles contra-argumentam porque gostam de dar showzinhos. Eles discutem com os professores, expõe suas idéias 'maneiras, cara', armam barraco em sala de aula (e até, não sei onde!, encontram espaço para falar sobre alienação e a luta revolucionária contra a alienação) tudo porque a professora quis ceder um espaço para falar sobre a matéria em desenvolvimento.

Sabem daquelas pessoas que levantam a mão só para falar besteira? Ou ainda aquelas, que qualquer coisa que o professor ou o aluno fala, ela diz: "não podemos generalizar, né? tudo é relativo..."? Aff! É ÓBVIO QUE TUDO É RELATIVO, CRIATURA, mas se estamos tentando chegar a uma conclusão sobre alguma coisa, precisamos adentrar em algum nível de generalização. A teoria não pode lidar com níveis de relatividade, porque ela procura elementos comuns. É como na ciência, e mesmo o estudo literário precisa ter um quê científico, objetivo. Mas não! Sempre tem algum acadêmicuzinho impressionista que fala sobre relatividade e sentimento da alma. Bichisse.

Ou então, o coliseu fecha quando um tenta mostrar diante da professora (que faz um papel de mãe-a-ser-impressionada-pelos-filhos) que sabe mais que o outro. Ou usam o pretexto de uma aula discutida e crítica para diminuir o colega. O grande problema da Academia é a vaidade: para começar, lá na Letras, não fazemos nem estudamos NADA DE MAIS! É só literatura, um bando de caras mortos e uns textos críticos mal-escritos. É por isso que parecem tão difíceis: são mal escritos.

A poesia não surge da alma (acho que nem existe alma), mas isso não quer dizer que você possa arrogar para si algum entendimento especial da poesia, até porque ando suspeitando que os poetas escrevem sobre qualquer coisa e de qualquer jeito que lhes pareça mais bonito.
Na Academia revira-se entulhos e entulhos de culturas mortas e regozija-se disso como se fizéssemos grandes descobertas. O pior alvo para isso são os próprios acadêmicos: jovens (entre 18 e 19 anos), altamente impressionáveis, imaturos, acham isso uma maravilha e usam isso para, ás vezes, para tapar buracos em sua própria auto-estima: coitadinhos deles quando descobrirem que esse conhecimento, quando apenas acumulado, nada significa e nada frutifica de útil para a tua vida individual, que é a única coisa que interessa.

Mas sim! Invejo, do fundo do coração, aqueles que mal cursaram dois semestres e já estão usando camisa social, deixando bigode crescer, usando oclinhos de velho e andando pra lá e pra cá com dois tomos de história de literatura francesa. Ou as gurias, que mal completaram 19 anos, usam salto, maquiagem pesada e se vestem wannabe mulheres independentes. Isso é tão escroto e forçado que me dá vontade de chorar.

Já estou chorando...


Para finalizar, quase aplaudi uma garota, na FACED, que extinguiu todo o hálito pulmonar dela pra dizer que "a escola era uma bolha". Muito bem dito! Só pena que esqueceu de dizer que a faculdade também era OUTRA bolha.

E o mais triste: quem aqui pensa que na Academia se ensaia para viver a vida dos adultos, só lamento em dizer que está coberto de razão.

2 comentários:

  1. Okaaay, vamos nos acalmar 8'D AHWOAIEH
    Olha, li tudo (nem sei como) e captei vossa mensagem. É o que eu vejo no IA também. Nego que manja tudo de todos artistas, historiadores e críticos, mas que não conseguem sair daquilo na hora de discutir, ou falam o óbvio, ou não conseguem ver possibilidades úteis naquilo pro tempo em que vivem. Sendo assim, ir pra faculdade só pra mostrar pra professora que sabe e dar showzinho, é realmente um desperdício e enojante. u.u

    Devo acrescentar que tem um quê de protesto revoltadjinho nesse teu texto ok ahwoaiehaeha pelo menos não é nenhum discurso PSEUDO-político (lulz) :'D

    Te amo aeaeae

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  2. e daí que tem? :'D não sou obrigado a tratar tudo de modo frio e calculado.

    E eu sou revoltadinho. Sempre fui

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