terça-feira, 24 de março de 2009

Sobre pseudópodes.

Acho muito engraçado que algumas pessoas tenham a enorme propensão a utilizarem a palavra pseudo- (ainda que isso seja um prefixo, hahaha!), algumas vezes para mediocrizar ou rebaixar o trabalho do outro (ou o próprio outro), muitas vezes sob o pretexo de “salvaguardar a legitimidade de alguma coisa”. Entenderam?

Vamos supor:

-“Seu argumento não esconde o que você é: um pseudointelectual”.

Essa é a que mais ouço por aí, alguém chamando o outro de “pseudointelectual” e falando sobre “pseudointelectualismo”. Mas fico me perguntando o que vem a ser uma e outra! No meu entendimento, intelectual é aquele que dispõe esforços para satisfazer alguma curiosidade intelectual, ou que estuda, pesquisa assuntos de cunho intelectual. Por intelecto temos a razão e tudo o que pode ser apreendido por ela. Intelecto é a nossa capacidade de pensar sobre as coisas, e todo o pensar sobre as coisas é um pensar crítico (negativamente ou positivamente). Mas, de tempos pra cá, essa alcunha “o intelectual” aplica-se apenas àqueles estudiosos das culturas, das áreas humanas (onde se desenvolve um senso crítico mais apurado sobre o mundo), ou aqueles que “costumam ter uma opinião sobre as coisas, uma opinião bem formada”. Os intelectuais detém o conhecimento, mas uma vez que o conhecimento não é um dado a priori, todos os intelectuais, logo, são “pessoas que buscam o conhecimento”, como afirmei anteriormente. Ok, e daí? E daí que é simplesmente impossível existir uma pessoa que falsamente se dirija ao conhecimento. Em relação à apreensão de cultura e saberes, só se pode tomar duas vias: apreender ou não-apreender.

Também dizem que o pseudointelectual “finge” que sabe; apenas recita nomes de autores que nunca leu, e apenas usa a alcunha de intelectual como uma espécie de vaidade. Discordo que existam pessoas assim, que se contentem apenas com uma falsa imagem de intelectualidade, mas penso que todas essas pessoas, geralmente jovens e/ou prematuros em sua busca pelo conhecimento, estejam apenas curiosas e impressionadas com o sem-número de saberes dos quais elas nem conhecem 1/100. Esse deslumbramento, muitas vezes infantil, pode muito bem se assemelhar ao deslumbramento que tu mesmo, intelectual douto, teve quando estava na infância do teu aprendizado. Impressionadas, muitas pessoas querem arrogar para si o triunfo de ter ler Hermann Hesse ou Sartre, mas não é porque elas o fazem, algumas vezes por orgulho de si mesmas, que isso as torna pseudointelectuais. Um verdadeiro pseudointelectual deveria se divertir de fazer os outros pensarem que ele de fato conhece o que não conhece, e para isso, meus amigos, é necessário grande esperteza e sabedoria.

Os pseudistas são pseudópodes: falta-lhes fixar o pé na terra e abandonar o terreno, muitas vezes aéreo, do ego. Ás vezes sou tentado a pensar que os mais críticos são os mais vaidosos, no sentido de que amam descrever e dissecar as coisas todas com o seu olhar, algumas vezes mau, outras vezes ambicioso, e quase sempre pretensioso. A crítica é uma pretensão e uma autopublicação, se pensarem bem. E me sinto tentado a reverter a magia contra o feiticeiro quando digo que esses críticos, que amam dizer a palavra ‘pseudo’, são os verdadeiros falsos: nunca vi uma verdadeira intenção de construir o saber, mas suas críticas são apenas destrutivas e infrutíferas; para legitimar algo que eles tomaram como exclusivo seu, alegam ser falsos todos os outros que poderiam se identificar com essa exclusividade-não-tão-exclusiva assim. Dessa forma, quantos ‘intelectuais’ não desmerecem a inteligência e as opiniões aos outros porque pensa e sente que apenas de si mesmo podem manar as verdadeiras conquistas de um autêntico intelectual? Ocorre muitas vezes a infelicidade desses infelizes encontrarem alguém que consegue fazer tanto, ou dizer tanto, quanto eles sem o esforço e o desprazer que eles mesmos sofrem. Esses, por não sofrerem e não suarem, são crianças brincando de serem sábios, não é mesmo? Pois os verdadeiros intelectuais sofrem para serem o que são e o que sempre foram.

Para finalizar, li recentemente em um blog a palavra “pseudojornalistas”. O suposto autêntico jornalista criticava esse jornalismo por não ser completo e por omitir (talvez na ótica do crítico) acidentalmente muitos detalhes do verdadeiro ser que Barack Obama é: retórico e vazio.

Não lhe tiro o direito de pensar o que quiser sobre Barack Obama, mas quem relegou a ele o direito de julgar como ‘falso jornalismo’ o trabalho de jornalista, esses profissionais e tão rodados quanto ele? Sério. Quem nos dá o direito de desmerecer e desclassificar o intelecto e o trabalho alheio, justificando tal como uma ‘crítica construtiva e justificada’?

E me pergunto mais: o que é um falso jornalismo? Jornal é uma espécie de revista que exibe fatos do dia-a-dia no mundo, certo? Notícias. Quem poderia escrever falsamente sobre fatos? Ah! E não vamos idealizar também o próprio papel do jornal:

- o jornal sim é um veículo de informações verídicas, mas desde quando essas informações não são filtradas de acordo com interesses de segundos (sendo nós os terceiros)? Afinal, jornal fala sobre o mundo, o país, a cidade, o estado: mas para alguém, e de alguma forma, e em alguns detalhes. Não é interessante fazer anti-propaganda de quem se admira, como os supostos pseudo-jornalistas, até porque, na verdade, se encararmos indivíduo por indivíduo, todos possuem dois lados: um repleto de defeitos e outro de qualidades. O suposto jornalista true falou sobre um presidente sábio, honesto, etc etc. Mas falou apenas de qualidades. Porque não listou os defeitos? Estes defeitos seriam facilmente encobertados por essas qualidades?

É preciso tomar cuidado com a crítica: pois há sempre aqueles que se regozijam muito em criticar negativamente, e são sempre aqueles que, em suas fantasias, se imaginam cumulados por uma honraria que é ter uma percepção mais apurada que a dos outros. Sempre para fora!

Um comentário:

  1. Ainda não li esse post (tu tem a mania de escrever KILOOOMETRUZ) mas... seria legal se tu começasse a utilizar o espaço do título, na hora de escrever postagem, lol

    Teamulz.

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