III
Calados! Um trovão de aço fere o cenho enrijecido do Esposo; em suas têmporas arde o rumor glaciático de nossas palavras, nosso zumbido humano de moscas. Mas, ah! Estúpido! Tu quem o quis, e agora, que acordas na interferência que nossas vozes fazem sobre teus sonhos, dê uma boa olhada em todos os rostos cobertos por máscaras de gesso. Estão todos mortos, entretanto ainda caminham entre os vivos com o passo leve e telepático do grou. - Ainda possuo o corpo do Mistagogo, o sacerdote que lhe ministrou venenos que apenas a natureza profunda dos oceanos engendraria em sua flora monstruosa, e ainda a minha narrativa sorve as faculdades cognoscitivas desse cérebro arrombado em seus cadeados. Vês, ao teu redor? Água, apenas água. Esta negra, constituindo um espelho sobre o qual ninguém ousaria caminhar. Mas você o pode. Seu ventre, devidamente restaurado, agora parece menos pesado, não é? Vomitaste por duas horas consecutivas uma água repleta de ferrugem e de essências violetas. Agora, que seu ventre foi devidamente restaurado, olhe bem para o rosto uniforme dessa dúzia de crianças: estão mortas, mas a suavidade das plumas negras de seus mantos desliza na intemitência da neve que cai na estação chamada de inverno. Alguns a confundiriam com cisnes negros, outros pensariam se tratar de corvos e suas asas com penas de enxofre. Mas não precisas deter muito o olhar em seus rostos secretos: vede suas máscaras; algumas lembram a beleza pétrea de Apólo, e outros a de Faetonte. Alguns são negros, outros são aborígenes, e ainda há mulheres, cujo seio foi nutrido por uma glândula fabricadora de láudano. Você as vê? São suas crianças. São os seus mortos. Eles caminham, e suas posturas lembram a graça profunda do crisântemo. Você está bem? Vejo que voltas a vomitar...
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