O poeta precisa ser desintoxicado de tudo quanto leu. Ele precisa combater seus ídolos e matá-los.
Hefesto
A potência do carvão já afundou tuas agulhas nesse vulcão cujo fogo arde o corpo das cobras.
Afundar e arder são teus verbos favoritos. Imagino-o, em tua inconsciência, carregando o peso das ligas de bronze com o ferro extraído do teu ressentimento. O rosto perpetuamente marcado pela velhice.
Na arquitetura da tua fisionomia, grãos de areia negra e azul pendem das rugas; os cabelos arrepiados parecem tremer diante do olhar de mercúrio que o sol um dia te impôs. Eles o cegaram. Eles sim, foram. Quando decapitou o penhasco, não pensastes também em ser um narciso em flor? A flor enganou um túmulo e sua voracidade, este de mármore e linho, recoberto de nuvens. O sol morria de semelhante forma quando vestia sua capa de legista; Os médicos abriam o ventre solar e retiravam dele o fígado as ulcerações no pâncreas. E eu que pensava ser tu um ignorante das fantasias do açúcar!
Mas tu, velho sombrio, apodrecia a noite na sombra do etrusco solitário, aquele mesmo bárbaro afeito à guerra como a sua mãe, e eu? e quanto a mim? Permaneci vegetando, o musgo em minha alma, os tecidos das aranhas enredando meu coração com o silício gelado; talvez fosse assim aquilo que elas previram, que elas bendiziam! Você, me abandonando, matando o Prometeu que fendia meus pulmões, o acorrentando à tua covardia. E eu, curiosa aritmética da morte, pensava ser tu um ignorante das fantasias do açúcar!
O Sono
Na água do terraço o murmúrio cala
Cala-te
A água parada
Cristal ou crista de rosa
Rosa-te. Inerme.
.Pontos.
A serra, estilhaçada em asas, mariposa
Luz contra a sombra opaca.
Bolha de ciúme
teu coração, morno e sangrento, abandona.
O sono público.
O carro e sua transfusão de movimento.
O círculo está morto.
A serpente, enreda teu corpo
Ossos se quebram e paralisam. Agora é elíptico.
O silêncio converge contra meu sono
Atravessa meu pescoço
como um raio
Frouxo, abrupto, frouxo, abrupto; ar límpido
Plano, culminante, gélido.
O sono, frouxo, preso.
O Sono
Louvo a lufada
O vento, a praia, a praia-sol, o fogo ardendo na areia.
Sou como a lua.
O oceano embala seus acordes moles
Desliza sua gota pela vértebra do teu cenho
Sente-o degelando a espinha dorsal, sinto.
A torre, o marfim dos teus ossos moles e elefânticos. Tão pesado.
O mundo, a esfera. O passo submarino da garça.
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