quinta-feira, 7 de maio de 2009

Limitado

"Eu não posso ter um nome. Não posso dizer um nome. Identidades não se afirmam, não se constroem. Pare de especular sobre ela. Pare já com isso, essa tentativa escrota de se definir limites. O mundo que tocamos, e como nós tocamos, só pode ser o mesmo. Você percebe a limitação que o mundo adquire quando o toca, e ao mesmo tempo a ilimitação dele quando sonha. Você não tem uma subjetividade. Você não é único e nem sequer especial. Foda-se você, humano. Você é infantil, você é poeira nos passos dos grandes (se houve grandes longe das tuas lendas), você, talvez, ainda seja escravo quando tenta libertar-se. Afirmar que você é assim e assado? Quem pensa que é para dizer isso? Morre na ignorância. Você morre, tudo morre quando diz isso, quando ousa dizer isso. As coisas perdem o significado na tua linguagem shakespeareana. O sentido não é mais o mesmo: é a tua reação a um mundo globalizado. É a tua reação à necessidade crescente e vendida de ser único, de consumir coisas únicas. No fundo, uma coisa tão nobre e poderosa quanto o egoísmo humano sequer deve ser especulado: é vivido, é sentido como uma força motriz que dispara das veias, dos ácidos que congelam teus músculos, das contrações da carne tentando vencer os limites ósseos dos teus desejos. Ilimitado, se fosses, não diria teu nome. Tu, homem ilimitado, é qualquer coisa que quiser. Não é nada. É um grande enigma, um enigma horrendo e agressivo. Se uma criatura ingênua se aproximasse de ti, seria estraçalhada, seria devorada pelos teus dentes da tua mandíbula cruel. Tu, enigma, grande enigma, porque não teme a morte? Porque a aceita, tudo o que foi consumido pelo abismo? Porque aceita nossos esforços que, na verdade, quando vem a morte os anula todos, os fazem parecer vãos? Como pode viver assim, sob a proteção desse signo? Realmente não entendo como pode ser tão belo esse não-sentido que dás à vida. Não entendo a beleza que faz com que chores quando observa a fragilidade de uma fina placa de cristal estilhaçando: foi-se uma vida ou um coração, murmurarias, comovido pela beleza do aniquilamento."

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