Meu pensamento se constitui pela velocidade, pelo automatismo das palavras, mas isso não quer dizer que a livre associação seja o elemento que constitui uma poesia do inconsciente. Na verdade não. A submersão deve ser apenas um mergulho num nível de pré-razão, pré-consciência, onde as coisas (sentimentos, sensações, construções) ainda residem em seu estágio embrionário. Para dizer alguma coisa racionalmente eu precisaria pressurizar esses vapores e então transformar tudo em uma condensação, que representaria apenas um resumo, uns 30% de sua realidade psico-material [?].
Em verdade procuro isso. Como Lautréamont mesmo disse em uma estrofe: ele não estava recaindo no absurdo quando dizia estar inseguro se as colunas que via no vale abaixo dele eram baobás ou coisas menores que dois alfinetes, pois seus olhos estavam sob o efeito das leis da ótica, e àquela distância duas pilastras poderiam, francamente, serem menores que dois alfinetes. A exatidão daquilo que se percebe transpõe os limites do lógico. O lógico é uma construção e uma tradução que tu faz do sentimento puro. O lógico in-forma, através de sua arquitetura natural, as cores que pretendo jogar e pouco informar, senão pelas formas que lhe parecem menos verdadeiras para mim e mais verdadeiras para minha intuição.
O fenômeno da percepção se detém sobre aquilo que nos joga numa zona de estranhamento. Mas, a esse estranhamento, sempre sinto a presença de sua duplicação oposta: uma familiaridade semelhante ao dejá-vu ou ao sonho. Estará o absurdo entranhado em nossa pré-lógica como uma construção imagética do conhecimento, das palavras, uma pré-verbalização daquilo que realmente vamos dizer? Minha linguagem sempre se lançou contra isso. Hoje, por influência das leituras que fiz de Lautréamont e Saint John Perse (bem como Rimbaud, entre outros), não só a imagética mas a sintaxe se deteriora. Os poemas passam a se constituir de imagens puras que, ás vezes, se neutralizam. Essa neutralidade a farejo como um silêncio e talvez um fracasso ao me deixar dominar pelos trânsitos de mundos que coabitam meu corpo.
Para quem lê primeiro esta pequena nota, aconselho a ler o que escrevi sobre o 'Animal-Deus'. É de inspiração Nietzscheana, e também de inspiração no meu espírito atual: um espírito que ousa até mesmo degradar o nome dos gênios, matar sua paternidade assumida e os instrumentos de sua formação. A não-identidade é assumida porque eu mesmo a considero supérflua, e não só isso, como também um obstáculo para a verdadeira realização de um todo.
Não sei mais o que digo, e se o que digo não é absurdamente pretensioso. Ás vezes faço citações de autores que nunca li, apenas para parecer exímio e inteligente. Vocês sempre acreditam, não é? Que eu seja realmente esperto. Mas tudo isso, não querendo passar por mentiroso agora, mas sim me purificar desse estigma, não passa de um processo burocrático e leal: eu conto minhas verdades e vocês acreditam.
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