O teu cabelo negro é uma fibra que arranco
Passo as mãos pelo cenho leopardino
Sinto a noite combalindo contra minha carne
Ela a penetra; as veias, intoxicadas pelo inconsciente dos seus astros
Chocam-se ouros. Na boca franzida do teu rosto há um ouro negro, desfacelado.
Trêmula a tua mão, a pego, ela é quente mas as unhas são frias.
Há qualquer coisa de lunar nos teus seios e no teu óvulo. O frio intercala-se com esse olhar submerso e siberiano.
O útero, eu o ouvi chiar como se estivesse cheio de vapor louro intumescendo suas paredes infantes.
Eu comia seus vapores, quando, pela tua vagina, escabelava-te os cabelos e os agarrava como eu o faria com uma corrente e seu criador.
Sinto essa inocência corpórea e circular, querendo retomar o império da carne diante da natureza.
É por isso que a linguagem refrata no prisma: minha carne, extensão de uma sexualidade atomizada pelas vontades de remodelar o universo.
Capricho de deus, pensariam alguns. Sou um Deus, um homem lunar. Meu sangue, ele banharia a constelação boreal do teu baixo-ventre. Pegue um pouco de minhas lágrimas anfitriãs!
Acalma-te... e bebamos um pouco do conteúdo desta ânfora. Ela é de prata e recoberta de opalas. Minha túnica marrom trás à minha figura
um aspecto silvestre, mas, para bem falar a verdade, nunca pertenci à metrópole. Vê meus olhos? Nunca foram manchados pela carbonação da alma.
O pistão do meu cérebro? As máquinas ignoram tal combustão de cores esfaceladas na ametista. Eu sou aquilo que concebo imediatamente, uma espécie
de automatismo da loucura. Sonâmbulo, eu caminho com os passos do sonho, mas não sonho. Eu sou a imediata projeção desse absurdo de estar fora e dentro de mim.
Você conseguiria realizar semelhante performance? As carnes dos meus tecidos revestem o céu azul e rígido. Eu bebi a secura dos mares e guspi as grutas. Cavem,
se quiserem, as grutas em meu coração doente. Ele está cheio de buracos, uma colméia eletrificada pelo aditivo. Sou um deus induzido pelo antibiótico de sua loucura.
Uma gota de chumbo rolou pelo meu olho. O direito, semelhante a uma safira entrecortada por um rubi. A frieza dos minerais arranca do meu espírito suas faculdades mais lógicas, mais recortantes. Meu rosto já fui rentagular um dia, mas agora eu apenas me deixo à sombra de um adormecimento fútil.
A complexidade de um silogismo se mede pela sua capacidade de desdobrá-lo em sete partes.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário