quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Sono

Meu tórax é uma bomba de areia mole
A sombra das montanhas joga a sua pedra negra no seio dos vales de esmeralda...
Meu tórax - o ar parece gravitante, dotado de um peso lunar e ostensivo.
Tapetes de pupilas desfilam diante de mim.
Emudecimento da neve sobre o parapeito
E o zênite frouxo estacionando o seu rosto de cem kilos sobre os meus ombros.
O céu estava enrugado de nuvens.
E, por sobre a pálpebra dos meus olhos, um cometa negro mancha sua raíz com o metal de uma agulha.
(Meu coração, chora meu coração, lágrimas ebulidas pelo calor de um passo.
O largo charco molhando a espuma de terra
O musgo vermelho no branco do teu globo
As glândulas do meu corpo produzem uma essência mortal de beladona...
E tudo compete para a exaustão desse passo jovem de elefante)


- Sobre esse poema:

Encontro uma espécie de contradição quando escrevo poemas sobre o sono: pela grande numeração de substantivos e imagens, o poema traduz um movimento que seria impróprio para criar uma esfera de sono. As imagens que crio surgiram numa espécie de "aleatoriedade controlada", onde pautei o poema com imagens que melhor traduzissem estados de ânimo que escondo no poema, construindo uma linguagem completamente imagética. Penso que até mesmo a imagem é produtora de movimento, e a variação dessas substantivações cria não apenas esse movimento entranhado no significante, como também no significado (por exemplo: seda trêmula conduziria a imaginação a uma capa de seda tremendo). Algumas palavras não foram cuidadas - aliás, este tem sido o meu prazer: sei que sou capaz de escrever um poema inteiramente pensado, mas me entrego a uma espécie de volúpia em apenas deixar que o absurdo apareça repentinamente no que escrevo. É a característica principal da minha linguagem: seu irremediavel sonambulismo

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